Um Panorama da Água no Mundo

Estima-se que a quantidade total de água na Terra seja de 1,386 milhões de Km3, na qual 97% é de água salgada dos oceanos e 3,0% de água doce. Porém de toda a água doce no planeta, 68,7% está contida nas geleiras e calotas polares, estando apenas 0,27% disposta em lagos e rios,
ou seja, cerca de 0,007% do volume total de água no planeta está disponível nos cursos d’água.

Segundo previsão da UNESCO (1997), a população mundial superará os 10 bilhões de habitantes até a metade do século XXI e cerca de 5,5 bilhões estarão vivendo em áreas com moderada ou séria falta d’água. Sendo os recursos hídricos uma fonte limitada, o aumento da população causará falta de água, líquido revestido de importância vital e econômica.
A importância de se racionalizar o uso da água vai além das crises de abastecimento, pois as cidades sofrem também com problemas de enchentes. Neste sentido vem-se tornando cada vez mais necessário a adoção de tecnologias seguras que possibilitem o uso racional da água potável, principalmente através daredução per capitado consumo.

Formas de Captação de Água Doce



Os mananciais hoje disponíveis para a captação de água doce estão classificados
em três grandes grupos:

  • Mananciais superficiais

Córregos, ribeirões, rios, lagos, represas, etc

  • Águas subterrâneas

Lençol freático, lençol confinado.

  • Água da chuva

Água que cai do céu, fenômeno conhecido como precipitação.





Por que implantar um sistema de aproveitamento de água da chuva?


O aproveitamento de água pluvial surge como uma medida que tenta resolver dois graves problemas. O primeiro é a escassez de água, que já atormenta um grande número de pessoas pelo mundo e que, em um futuro próximo, alcançará maiores proporções. A redução do consumo de água potável permitirá o aumento de usuários atendidos, contribuindo para um dos itens de exclusão social.
Já é comum em regiões que recebem grande fluxo de turistas faltar água, principalmente em cidades litorâneas no verão, ironicamente a época de maior regime chuvoso.
O segundo é a drenagem urbana. A chuva tem causado graves problemas de ordem social e econômica, devido à crescente urbanização, nem sempre acompanhada de infraestruturas necessárias, como por exemplo, uma rede de drenagem adequada.
O uso deste sistema contribuirá para a redução das enchentes, retirando do sistema de drenagem um grande volume de água, já que grande parcela da precipitação está sendo captada e reservada.



A qualidade da água da chuva.

A água destinada ao consumo domiciliar deve ser potável. Água potável é aquela que não está contaminada ou que atende os requisitos mínimos de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde (pode ser um link) através da Portaria N.º 1469, de 29 de dezembro de 2000.
A água tem muitos usos além do consumo doméstico. É em função do uso dado a água que se determina quais padrões deverão ser atendidos e o nível detratamento que será dado a ela.
De um modo geral, a água da chuva apresenta boa qualidade, sendo bastante pura, devido principalmente ao processo de “destilação natural” que a mesma sofre. Esta destilação natural está ligada ao ciclo hidrológico, aos processos de evaporação e condensação. Entretanto, dependendo da região, a chuva pode apresentar poluentes principalmente em regiões próximas aos grandes centros urbanos ou a áreas bastante industrializadas, formando, assim, óxido de enxofre e nitrogênio.
Normalmente, a água pluvial tende a ser neutra, com seu pH variando entre 5,8 e 8,6.
Em função da área de coleta a qualidade da água da chuva pode ter a seguinte variação.

Grau de purificação
Área de coleta de chuva

Observações

A

Telhados (lugares não ocupados por pessoas e animais).

Se a água for purificada pode ser consumida

B

Telhados (lugares freqüentados por animais e pessoas)

Usos não potáveis

C

Terraços e terrenos impermeabilizados, áreas de estacionamento.

Mesmo para os usos não potáveis, necessita tratamento.

D

Estradas

Mesmo para os usos não potáveis, necessita tratamento.

Algumas medidas de segurança podem ser tomadas a fim de se garantir a qualidade da água da chuva:

  1. área de captação deve ser limpa, impermeabilizada, feita com material não tóxico e livre de fissuras e vegetações;
  2. torneiras e dispositivos para limpeza do tanque para lavagem deverão estar a pelo menos 0,05m do piso da cisterna;
  3. deverá ser colocado um sistema de filtragem antes da água entrar na cisterna;
  4. deverão ser colocadas proteções em todas as entradas do tanque a fim de evitar a entrada de animais na cisterna;
  5. o tanque deverá ser todo fechado a fim de impedir a entrada de qualquer iluminação para evitar o crescimento e a proliferação de algas e microorganismos;
  6. a limpeza do tanque, calhas, telas e outros componentes do sistema de captação deverão ser feitas periodicamente;
  7. deve-se descartar o primeiro volume de chuva;
  8. água de outras fontes não deverá ser misturada com a água pluvial contida no tanque.

Obs:Alguns autores relacionam a qualidade da água da chuva ao tipo de telha utilizada, ordenando os telhados do melhor para o pior da seguinte forma: metálico, amianto, plásticos, cerâmicos.

Vantagens e desvantagens de um sistema de aproveitamento de água da chuva.

Vantagens

Desvantagens

Conveniência (o suprimento ocorre no ponto de
consumo).

Alto custo (principalmente quando comparada
com outras fontes).

Fácil manutenção.

Suprimento é limitado (depende da quantidade
de precipitação e da área de telhado).

Baixos custos de operação e manutenção.

Custo inicial alto.

Qualidade relativamente boa (principalmente
quando a captação é feita em telhado).

Não atrativo a políticas públicas.

Baixo impacto ambiental.

Qualidade da água vulnerável.

As tecnologias disponíveis são flexíveis.

Possível rejeição cultural.

Construção simples.

Serve além de fonte de água como uma medida
não-estrutural para drenagem urbana.

Fonte: GOULD; NISSEN-PETERSEN (1999)




Aspectos Econômicos

O desenvolvimento dessa tecnologia irá contribuir para redução do consumo de água potável, tanto de edificações residenciais como comerciais e indústrias. Esta redução poderá chegar a até 50% do consumo total, dependendo do grau de tratamento dado a água coletada, da área de captação e das características do clima local.
A redução do consumo de água potável distribuída pelas concessionárias acarretará na redução da taxa de esgoto nos locais onde já está instituída esta cobrança.


Tabela de Consumo médio de água


Item

Quantidade

Por banho/habitante

39 a 50 litros

Pia do banheiro

6 litros/minuto

Outras torneiras

12 a 15 litros/uso

Descarga

8 a 30 litros/uso

Máquina de lavar pratos

50 litros/uso

Máquina de lavar roupas

80 litros uso

Veículo de passeio, porte médio

120 a 250 litros/lavagem – processo convencional
20 a 50 litros/lavagem – processo racional

Caminhão, porte médio

150 a 300 litros/lavagem – processo convencional

Ônibus, porte médio

300 a 1000 litros/lavagem– processo convencional

Restaurante

25 litros/refeição

Lavagem de pisos (depende do tipo de piso)

Em média 2,0 litros/m2

Perdas e desperdícios

25 a 50 litros/habitante/dia

Modificado de Azevedo Netto et al (1998) e Yassuda & Nogami (1976)

Também a taxa de drenagem já começa a ser cobrada em algumas cidades, como já ocorre na cidade de Santo André, SP. A implantação de sistemas como este, poderá também evitar a cobrança dessa taxas.
Além dos custos diretos, a economia se dará também de forma indireta através da redução dos custos embutidos no projeto, operação e manutenção de estações de tratamento de água e de sistemas de drenagem urbana.
Outras vantagens econômicas podem ser observadas, como por exemplo, utilizar o marketing ambiental para agregar valor ao produto. Uma construtora poderá ter um diferencial de venda do imóvel, já que construirá para si uma imagem de empresa preocupada com questões ambientais. E assim poderá se suceder comoutros estabelecimentos, como postos de combustíveis que utilizem água de chuva na lavagem dos automóveis, etc.

Exemplo:

Considerando uma residência de 6 pessoas e um consumo de 250 litros/pessoa/dia, teremos um consumo mensal de:
6 x 250 = 45000L ou 45m3 de água por mês
No preço de dezembro de 2004, a conta d’água mensal desta residência seria de R$ 123,86 mais o adicional de 80% sobre este valor referente à taxa de esgoto, implicando em mais R$ 99,09, resultando num total mensal de R$222,95(preços fornecidos pela Companhia Catarinense de Água e Saneamento de Santa Catarina - CASAN).
Supondo uma economia de 30% no consumo de água – reduzindo conseqüentemente a taxa de esgoto – teremos uma economia de R$ 85,16. O valor mensal pago reduziria paraR$ 137,97, representando cerca de 62% do valor total pago anteriormente.
OBS:Tarifas referentes ao mês de dezembro 2004.

As desvantagens econômicas são as que dizem respeito à construção do sistema, já que sua operação e manutenção ocorrem de maneira simples.
No entanto as desvantagens relacionadas com o alto custo inicial de implantação do sistema passam a ser desconsideradas com o passar dos anos, através da redução das tarifas de água e esgoto e dos benefícios ambientais adquiridos.


Alternativas para o uso da água da chuva.

Dependendo do grau de tratamento dado à água da chuva, pode-se dar a ela os mesmos usos que a água potável fornecida pelas concessionárias. Porém, não há ainda uma normatização sobre o assunto, levando-se a recomendar que seu uso seja restringido a fins menos nobres. Dentre estes se pode citar:

  1. Controle de cheias
  2. Descargas de vasos sanitários;
  3. Irrigação de plantas;
  4. Lavagem pisos, calçadas, etc;
  5. Lavagem de automóveis;
  6. Fins paisagísticos (chafarizes, lagos artificiais, etc);
  7. Isolamento térmico;
  8. Recreação.
  9. Combate a Incêndio
  10. Consumo industrial

Alguns exemplos nacionais e internacionais de aproveitamento de água da chuva.

Local

Características

Fonte

Ribeirão Preto (Brasil)


Existe uma residência onde a água pluvial é usada para descarga das bacias sanitárias, irrigação de jardins e lavagens de pisos, passeios e automóveis. Esta residência apresenta um volume total de armazenamento de 14,70m3, sendo deste total, 10 m3 na cisterna, 3,45 m3 para contenção no momento de chuvas intensas, podendo se tornar água para consumo em momento de estiagem, 1m3 no reservatório superior e 0,25m3 num reservatório exclusivo para a descarga.



(Residência em Ribeirão Preto com aproveitamento de água pluvial – cedida por André Texeira Hernanes )


(Filtro de partículas sólidas e detalhe das telas - cedida por André Texeira Hernandes)


(Dispositivo de descarte da primeira chuva -
cedida por
André Texeira Hernandes)

Siqueira Campos et al (2003)

Brasil


É muito comum no semi-árido brasileiro o uso da água pluvial. Essa região sofre bastante com crises históricas no abastecimento, devido à pobreza de recursos naturais da região. No momento, há uma preocupação de diversas entidades com o assunto , como por exemplo, a Cáritas Brasileira e o PEASA (em parceria com a Universidade Federal da Paraíba). Estas têm construído cisternas a um baixo custo e com a participação da comunidade beneficiada. As cisternas apresentam as seguintes características:
• Material: placas de concreto;
• Volume: 15 m3
• Diâmetro: 3,50m;
• Altura: 1,50m;
• Custo total de R$ 360,00(junho 2002).
A construção dessas cisternas beneficia a população propiciando água mais limpa e economia de quilômetros de caminhada.

(Seqüência de construção de uma cisterna)

www.caritasbrasileira.org.br

Havaí (EUA)


Cerca de 60.000 pessoas usam água de chuva para atender suas necessidades. Utilizam cisternas acima da superfície, com grande presença do tipo de fibras de vidro e polietileno.


Macomber (2003)

Texas (EUA)

Nesta região encontra-se o H.E.B. Grocery, um supermercado onde é feita a captação de água pluvial para a irrigação do jardim. O sistema é composto por 4 cisternas sendo duas com volume de 30,28 m3 e duas de 22,71 m3. As calhas possuem diâmetro de aproximadamente 61 cm.

(Cisternas metálicas- H.E.B. Grocery)


Campos (2004)

Texas (EUA)

Na clínica veterinária Feather & Furn Animal Hospital, o sistema combina a água coletada notelhado, no estacionamento e a proveniente dosistema de ar condicionado. A água é armazenada em duas cisternas (uma de pedra e outra metálica), totalizando um volume de 113,56 m3 e é utilizada na irrigação do jardim, que possui uma área total de 3035,25 m2.,

(Captação da água do ar condicionado junto com a pluvial - Feather & Fuhr Animal Hospital)


Campos (2004)

Texas (EUA)

Também na clínica veterinária Stay ‘n’ Play Pet Ranch, o sistema está em funcionamento desde novembro de 1998. A água é coletada em um telhado com 632,40 m2 e vai para 3 cisternas com 37,85 m3 cada uma, construídas em fibra de vidro. Antes de a água atingir os pontos de consumo, ela passa por um sistema de esterilização ultravioleta além de filtros de carvão e de fibra. A água pluvial consumida no prédio, cerca de 3,28 m3/dia, é utilizada para fins potáveis e não potáveis tais como para lavar os animais e os canis.

(Sistema de esterilização/filtragem da água pluvial – Stay ‘n’ Play Pet Ranch)


Campos (2004)

Dripping Springs (EUA)

A empresa “Tank Town” é a primeira a engarrafar água pluvial para consumo humano. Sem tratamento químico nenhum (a água passa por um tratamento de osmose reversa), a água é vendida para todo o país, sendo que o apelo ambiental representa um importante diferencial para as vendas.

(Água pluvial engarrafada - Tank Town)


Campos (2004)

Alemanha


Já existem cerca de 100 fabricantes de acessórios para instalação de sistemas de aproveitamento de água pluvial, tendo o principal fabricante instalado cerca de 100.000 cisternas nos últimos 10 anos, com um volume total de 600.000 m3. A elaboração de normas como a DIN 1989-1 que regulamentou a instalação, operação e manutenção de sistemas de aproveitamento de água pluvial, e os incentivos locais, foram responsáveis para o desenvolvimento dessa tecnologia.


(Herrmann; Schmida,1999)

Meillonas (França)


Nesta região existe uma experiência em doze edifícios residenciais, com três pavimentos cada, área de captação igual a 458m2 e onde moram 37 pessoas. Antes de chegar à reserva, que ocorre em 15 reservatórios em PEAD, com 1m3 cada, localizados no sótão, a água passa por um filtro composto por duas malhas, uma com 5 x 5 mm e outra com 2 x 2 mm. Após o armazenamento, a água passa novamente por uma tela filtrante de 100µm e vai para pequenos reservatórios de 750 litros localizados na parte superior dos pavimentos, sobre a escada.
Há fornecimento de água potável para esses tanques quando houver ausência de água pluvial.

(Esquema funcional do edifício francês)


(De Gouvello et al, 2003)

Japão


O Japão é o país que melhor utiliza a água da chuva, pois além dos usos convencionais existem outros com muita criatividade. Lá existem as eco-roji, ou ruas ecológicas, que são ruas dotadas de mobílias (rojison) que apresentam reservatórios de 10m3 , que armazenam a água pluvial proveniente das residências, e uma bomba manual que é usada para irrigação de canteiros. A água armazenada nesses reservatórios serve para a irrigação dos canteiros e para o uso em alguma emergência. Essa idéia dos rojison está baseada na idéia do Tensuison (respeito à abençoada água de chuva) que nada mais é do que tanques comunitários compostos por uma torneira e uma bomba manual.

(Utilização do Rojison - Cedida por Makoto Murase)

Campos (2004)

Esquema básico de um sistema de aproveitamento de água da chuva.

São três os elementos essenciais a serem considerados durante a concepção e projeto de um sistema de aproveitamento de água pluvial: a área de captação, oscomponentes de transporte (as calhas e tubos de quedas) e a cisterna (reservatório).

A área de captação é aquela onde ocorre toda a coleta da água pluvial. É um ponto crítico para o dimensionamento correto do sistema, pois a partir dele é que será determinada a quantidade de água possível de ser captada e aproveitada.
Os componentes de transporte de água pluvial (calhas e condutores verticais e horizontais) são fundamentais para o funcionamento correto de um sistema. Estes elementos são responsáveis pelo transporte da água do ponto de coleta (cobertura) até o ponto de armazenamento (cisterna).
O último componente essencial é a cisterna, onde ocorre o armazenamento da água coletada. Esse componente é o mais importante do ponto de vista econômico, sendo responsável por cerca de 50 a 60% do custo total do sistema, além de ser um dos principais responsáveis pela qualidade da água no ponto de consumo.

Sendo Assim...
O aproveitamento de água de chuva apresenta-se como uma alternativa de grande interesse, pois faz parte de um projeto maior que envolve um programa sério de uso racional da água, enquanto vários países do mundo já utilizam este sistema. No Brasil o uso ainda está apenas começando, sendo prática comum em regiões de seca, como no Nordeste, e em iniciativas isoladas espalhadas pelo país.

A água da chuva é um presente da natureza, e nós precisamos aprender a conviver melhor com ela.

Introdução

Drenagem é o termo empregado na designação das instalações destinadas a escoar o excesso de água. Entende-se por drenagem urbana pluvial o sistema destinado ao escoamento das águas de chuva no meio urbano.


Esta definição, no entanto, não demonstra a complexidade dos fatores que envolvem o tema.
De fato, um sistema de drenagem urbana pluvial está intimamente ligado ao modo como o homem usa e ocupa o solo. Isto implica reconhecer suas

tradições culturais, o desenvolvimento de sua comunidade, o ecossistema no qual ele se insere,
os fatores climáticos, sua organização social, a estrutura geográfica, os fatores econômicos e, ainda, projetar dados para o futuro.

Então, muito mais do que um conjunto de obras visando proporcionar o transporte das águas, a drenagem deve ser vista dentro de um enfoque global, reconhecendo a complexidade das relações entre os ecossistemas naturais, o sistema urbano artificial e a sociedade.


Por que ocorrem as enchentes urbanas
:


As enchentes urbanas são resultado da combinação dos fenômenos naturais e das ações antrópicas.

É normal no regime hídrico de um curso d’água existirem os períodos de estiagem e de cheias. Nas épocas de cheia, correspondentes às estações de chuvas, acontece uma inundação da área adjacente a este curso d’água, denominada área de inundação.

Para efeitos de projeto, a área de inundação é limitada pelo nível que alcança a água, para um determinado período de retorno, geralmente de 100 anos. A planície de inundação é formada pelos terrenos baixos adjacentes a um recurso hídrico e que podem, eventualmente, ser coberto pelas águas de inundações.


As enchentes naturais fazem, então, parte do ciclo de vida de um corpo hídrico, contribuindo inclusive, para a diversidade do ecossistema, pois este regime de seca e alagamento propicia condições para diferentes formas de vida se adaptarem ao local.
O homem também aprendeu a se beneficiar com as enchentes naturais, ao descobrir, ainda em seu estado primitivo, a agricultura. Foi às margens dos rios, em solos fertilizados devido ao avanço e posterior recuo da água, que as primeiras civilizações se originaram, ao passar a cultivarem o próprio alimento.
No entanto, essa sabedoria milenar de saber conviver com a água da chuva, não pode fazer frente ao desenfreado processo de urbanização.
Tal processo ocorreu de forma tão desordenada, que é comum observar nos dias de hoje, principalmente nas médias e grandes cidades, que até mesmo chuvas de pequena intensidade, causam empoçamentos, enchentes e deslizamentos de encostas, trazendo prejuízos ambientais, sociais e econômicos.
A excessiva impermeabilização do solo leva a intensificação do volume do escoamento superficial direto das águas pluviais, e essas alterações acabam ocasionando uma diminuição no tempo de concentração e produzindo maiores picos de vazões a jusante.

Principais fatores causadores de enchentes

Chuvas intensas

Desenvolvimento desordenado

Desmatamento e erosão do solo

Impermeabilização de superfícies

Assoreamento de canais

Deficiência da rede de esgotos – favorece ligações clandestinas à rede pluvial

Deficiência da coleta de lixo e limpeza pública – pode causar o entupimento das tubulações

Comportamento indisciplinado da população

Ocupação de áreas ribeirinhas e áreas de inundação natural (várzeas)

Aspectos econômicos

Ineficácia de políticas públicas

As enchentes urbanas são um problema crônico no Brasil. As comunidades de baixa renda, devido à localização de suas residências, são as mais afetadas.
Os problemas são bem conhecidos; as inundações, no mínimo, interrompem o trânsito de veículos e, em casos piores, podem causar danos a prédios e outras construções.

As enchentes nas cidades podem causar doenças, especialmente nos locais onde não existe saneamento básico. Podem provocar surtos de dengue e morte de pessoas que vivem em áreas de risco ambiental, além de causar riscos à saúde e poluição dos mananciais. A ocupação inadequada favorece os processos erosivos e deslizamentos de encostas.


O acúmulo de resíduos sólidos carreados pelas águas de chuva também pode causar poluição dos rios locais. A má qualidade da limpeza urbana e a falta de conscientização da população têm trazido grandes prejuízos à qualidade da água pluvial escoada para os cursos d'água. É preciso reduzir a geração de resíduos sólidos. O excesso de lixo é um empecilho para a implantação de reservatórios de retenção, aumenta os riscos sanitários
e o custo de manutenção da rede de drenagem.


No Brasil, ainda não há uma grande preocupação com a qualidade da água de drenagem, talvez pelo fato da maioria de nossos cursos d'água ainda receber esgoto doméstico "in natura".





Do que é formado um sistema de drenagem urbana pluvial

A estrutura física de um sistema de drenagem urbana pluvial é composta pelo Sistema de Micro-Drenagem e pelo Sistema de Macro-Drenagem.




O caminho percorrido pela água da chuva sobre uma superfície pode ser topograficamente bem definido, ou não. Após a implantação de uma cidade, o percurso caótico das enxurradas passa a ser determinado pelo traçado das ruas e acaba se comportando, tanto quantitativa como qualitativamente, de maneira bem diferente de seu comportamento original.
As torrentes originadas pela precipitação direta sobre as vias públicas desembocam nos bueiros situados nas sarjetas. Estas torrentes (somadas à água da rede pública proveniente dos coletores localizados nos pátios e das calhas situadas nos topos das edificações) são escoadas pelas tubulações que alimentam os condutos secundários, a partir do qual atingem o fundo do vale, onde o escoamento é topograficamente bem definido, mesmo que não haja um curso d’água perene.
Este escoamento no fundo do vale, formado por cursos naturais ou canais de maiores dimensões, é o que determina o chamado Sistema de Macro-Drenagem.









O sistema de macro-drenagem é composto por:

  • Cursos d’água, zonas de inundação natural, lagos permanentes;
  • Canais, bueiros, pontes, reservatórios de retenção e de detenção, extravasores, comportas.

O sistema responsável pela captação da água pluvial e sua condução até o sistema de macro-drenagem é denominado Sistema de Micro-drenagem.
Os principais elementos do sistema de micro-drenagem são:

  • Meio-fios: São constituídos de blocos de concreto ou de pedra, situados entre a via pública e o passeio, com sua face superior nivelada com o passeio, formando uma faixa paralela ao eixo da via pública.
  • Sarjetas: São as faixas formadas pelo limite da via pública com os meio-fios, formando uma calha que coleta as águas pluviais oriundas da rua.
  • Bocas-de-lobo: São dispositivos de captação das águas das sarjetas.
  • Poços de visita: São dispositivos colocados em pontos convenientes do sistema, para permitir sua manutenção.
  • Galerias: São as canalizações públicas destinadas a escoar as águas pluviais oriundas das ligações privadas e das bocas-de-lobo.
  • Condutos forçados e estações de bombeamento: Quando não há condições de escoamento por gravidade para a retirada da água de um canal de drenagem para um outro, recorre-se aos condutos forçados e às estações de bombeamento.
  • Sarjetões: São formados pela própria pavimentação nos cruzamentos das vias públicas, formando calhas que servem para orientar o fluxo das águas que escoam pelas sarjetas.

De uma maneira geral, as águas decorrentes da chuva (coletadas nas vias públicas por meio de bocas-de-lobo e descarregadas em condutos subterrâneos) são lançadas em cursos d’água naturais, no oceano, em lagos ou, no caso de solos bastante permeáveis, esparramadas sobre o terreno por onde infiltram no subsolo.
É recomendável que o sistema de drenagem seja tal que o percurso da água entre sua origem e seu destino seja o mínimo possível.
As bacias hidrográficas devem ser consideradas como unidade de análise para o projeto de um sistema de drenagem urbana pluvial.

Elementos a serem considerados no Projeto de um sistema de Micro-Drenagem


Hidrológicos

Hidráulicos

Gerais

unidade de captação de água de chuva

tipologia e materiais de construção

padronização de estruturas

período de retorno e risco

faixa de dimensões

localização e distâncias entre poços de visita

tempo de concentração mínimo

declividades e velocidades admissíveis

requisitos de escavação e recobrimento de condutos

coeficientes de deflúvio

hipóteses e simplificações de cálculo

chuvas de projeto

vazões e lâminas d’água admissíveis

métodos de estimativas de vazões

fatores de segurança

Evolução do conceito de drenagem urbana pluvial

  1. No século dezenove “Tout à l’égout”: Ou “tudo ao esgoto”, as águas da chuva escoavam junto com os esgotos (sistema único). Ainda é assim em alguns lugares.
  2. A partir de 1940, “Melhoria do fluxo”: Causava transferência do problema para outras áreas ou para o futuro
  3. A partir de 1960, “Planejamento da ocupação das planícies de inundação”: Questiona o modelo tradicional e começa a impor restrições às ocupações a aos tipos de obras.
  4. A partir de 1970, “Medidas compensatórias”: atenuação de picos de vazões, bacias de retenção, bacias de detenção.
  5. A partir de 1980 “Soluções desejáveis são aquelas que atuam sobre as causas”: controle de fluxos na origem, redução de volumes escoados, armazenamentos localizados no lote urbano, sistemas para infiltração, novas posturas tecnológicas, manutenção permanente, comprometimento dos cidadãos.
  6. A partir de 1990 “Drenagem urbana sustentável”: Visando a sustentabilidade ecológica, a sustentabilidade econômica e a sustentabilidade social. Deve-se apostar menos na solução tecnológica e mais na participação direta dos cidadãos.

Drenagem urbana pluvial sustentável – pra onde apontam os caminhos

Como já comentado, uma enchente no ambiente urbano é muito mais que o transbordamento natural da margem de um rio. As causas possuem múltiplas dimensões, inerentes ao processo de urbanização, e que formam um emaranhado complexo de inter-relações entre os fenômenos hidrológicos e não hidrológicos.
De fato, é devido à ausência, ao descumprimento ou a ineficácia de uma política voltada para o tema, que os processos decisivos para o agravamento da problemática começam e vão se intensificando.
Planejar e fiscalizar a expansão urbana, considerando ainda a recuperação do cenário atual, é o grande desafio. Controlar todas as inundações pode ser impossível, mas manejá-las adequadamente não é.
Diversas estratégias – e não apenas a construção de grandes obras - são necessárias para solucionar os problemas de drenagem.
Essas estratégias incluem as ações estruturais, que consistem dos componentes físicos ou de engenharia como parte integrante da infra-estrutura, e as ações não estruturais, que incluem todas as formas de atividades que envolvem as práticas de gerenciamento e mudanças de comportamento.
Novos modelos já adotados em muitos países desenvolvidos incorporam algumas técnicas inovadoras da engenharia como a construção de estacionamentos permeáveis e de canais abertos com vegetação a fim de atenuar as vazões de pico e reduzir a concentração de poluentes das águas de chuva nas áreas urbanas.


São novos princípios modernos da drenagem urbana pluvial:

  • Novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão de pico das condições naturais (ou prévias) - controle da vazão de saída ;
  • O planejamento da bacia deve incluir controle do volume;
  • Deve se evitar a transferência dos impactos para jusante.

O controle da drenagem na fonte pode ser executado através de áreas de infiltração e trincheiras, pavimentos permeáveis ou detenção. O princípio é manter a vazão preexistente, não transferindo o impacto do novo desenvolvimento para o sistema de drenagem. E a responsabilidade de operar o sistema e seu custo ficam para o empreendedor, e não para a administração pública, como é feito atualmente.
Outra técnica inovadora, apropriada para países como o Brasil, é a armazenagem das águas de chuva em reservatórios de acumulação para posterior reuso em irrigação de jardins e praças. Neste caso é necessário o controle da qualidade da água para definir uso apropriado.
A construção de pequenos reservatórios em parques públicos e o controle sobre a impermeabilização dos lotes e das vias públicas podem ser adotados antes que o espaço seja ocupado. Essas medidas, quando exercidas nos estágios iniciais da urbanização, exigem recursos relativamente limitados.
Para gestão dos recursos hídricos é necessária a integração das diversas agendas que existem em uma bacia e que estão associadas aos recursos hídricos (agenda azul), ao meio ambiente (agenda verde) e à cidade (agenda marrom). Essas políticas também têm que ser compatibilizadas na unidade de planejamento geral, que é a bacia hidrográfica.
Conceitualmente, sobre drenagem urbana pluvial sustentável, tem-se então: conjunto de medidas que têm como finalidade a minimização dos riscos aos quais a sociedade está sujeita e a diminuição dos prejuízos causados pelas inundações, possibilitando o desenvolvimento urbano da forma mais harmônica possível, articulado com as outras atividades urbanas.

A eficácia das soluções, está, enfim, ligada a:

  • política de ocupação do solo;
  • meios legais, financeiros, técnicos e institucionais;
  • organização institucional (tecnologia, critérios, obras, comunicação social, participação pública, aplicação de leis e normas);
  • processo de planejamento (curto, médio e longo prazo);
  • campanhas educativas.

Introdução

A preocupação do homem em colocar a água ao seu serviço data de eras antes de Cristo, na medida em que ele vai descobrindo e aperfeiçoandonovos usos para o precioso líquido, além da ingestão como consumo próprio.
Os mais antigos registros históricos que se tem desta ciência, segundo o professor José Martiniano de Azevedo Netto, são os coletores de esgoto que existiam em Nipur, na Babilônia, desde 3750 a.C. Já o aqueduto de Jerwan, construído na Assíria em torno do ano de 691 a.C foi o primeiro sistema público deabastecimento de água de que se tem notícia.
Vê-se então que desde que o homem teve a idéia de construir o primeiro recipiente capaz de conter água, para daí trazer o líquido para o interior de sua habitação, até as modernas instalações de águas e esgotos que existem hoje em dia, muito já se avançou em matéria de conhecimento e tecnologia, sempre visando a segurança e o conforto em busca de uma melhor qualidade de vida.

Aspectos Gerais

Pode-se entender por instalações hidráulico-sanitárias prediais o conjunto de canalizações, aparelhos, conexões, peças especiais e acessórios destinados ao suprimento de água ou ao afastamento de águas servidas ou pluviais dos prédios, desde a ligação à rede pública de água até o retorno ao coletor público de esgotos ou o sistema individual de tratamento, e também o encaminhamento das águas pluviais a rede pluvial da rua ou demais sistemas que utilizem a água da chuva (reutilização, infiltração no solo, etc).
As instalações hidráulico-sanitárias prediais atendem pelo ao menos dois requisitos básicos:


Requisitos

Descrição

Hidráulico

Fornecer água de qualidade apropriada, em quantidade suficiente e sob pressão adequada a todos os aparelhos.

Sanitário

Impedir o retorno de águas poluídas nas canalizações de alimentação dos aparelhos e a entrada de gases de esgotos, de roedores ou insetos nos prédios.

Existe hoje á disposição do engenheiro uma grande variedade de materiais, como tubulações, caixas d’água, aparelhos e metais sanitários, das mais variadas linhas e modelos. Cabe decidir entre os mais convenientes para cada caso específico.
Outro aspecto importante a ser levado em consideração durante um projeto de instalações hidráulico-sanitárias prediais é sua relação com o projeto arquitetônico. Deve-se haver um perfeito entrosamento com as soluções arquitetônicas e estruturais.
Um projeto de instalações hidráulico-prediais deverá conter:

  • Instalações de água fria
  • Instalações de água quente
  • Instalações de esgoto sanitário
  • Instalações de águas pluviais
  • Instalações de prevenção e auxílio ao combate a incêndio

Instalações de Água Fria

As instalações hidráulicas prediais de água fria são contempladas pela norma técnica da NBR 5626/1982, da ABNT.
O objetivo desta norma é “fixar as condições exigíveis quanto à maneira e os critérios pelos quais devem ser projetadas as instalações prediais de água fria, para atender às exigências técnicas mínimas de higiene, segurança, economia e conforto dos usuários.”

Garantir o fornecimento de água de forma contínua, em quantidade suficiente, com pressões e velocidades adequadas ao perfeito funcionamento das peças de utilização e do sistema de tubulações.

Preservar rigorosamente a qualidade da água do sistema de abastecimento.

Proporcionar o máximo de conforto aos usuários, incluindo a redução dos níveis de ruído.

Segundo a norma, item 3.2:

Alturas de pontos de utilização:


O projeto das instalações hidráulicas prediais de água fria deve ser desenvolvido em três etapas distintas e igualmente importantes: concepção do projeto, determinação das vazões e dimensionamentos.

Instalações de Água Quente

As instalações hidráulicas prediais de água quente são contempladas pela norma técnica da NBR 7198/1982, da ABNT.
O objetivo desta norma é “fixar as exigências técnicas mínimas quanto à higiene, à segurança, à economia e ao conforto a que devem obedecer as instalações prediais de abastecimento de água quente”.
O projeto das instalações hidráulicas prediais de água quente deverá compreender cálculos, desenhos e memorial descritivo, de modo a:

Garantir o fornecimento de água suficiente, sem ruído, com temperatura adequada e sob pressão necessária ao perfeito funcionamento das peças de utilização.

Preservar rigorosamente a qualidade da água

Instalações de Esgoto Sanitário

As instalações prediais de esgoto sanitário visam atender às exigências mínimas de habitação no que se relaciona à higiene, segurança, economia e conforto dos usuários.
Projetos inadequados dessas instalações resultam em desconfortáveis efeitos, entre os quais podem ser destacados: refluxo do esgoto, surgimento de espumas em ralos, mau cheiro nas instalações sanitárias.
A norma técnica da ABNT que regulamenta os procedimentos para instalações prediais de esgoto sanitário é a NBR 8160, sendo também referentes ao tema que interferem direta ou indiretamente:

  • NBR 5645 – Tubos Cerâmicos para canalizações - Especificação
  • NBR 6943 – Conexão de ferro maleável para tubulações, classe 10 –Padronização.
  • NBR 7229 – Construção e instalação de fossas sépticas e disposição dos efluentes finais – Procedimento.
  • NBR 7362 – Tubos de PVC rígido de seção circular para coletores de esgoto – Especificação.
  • NBR 5580 – Tubos de aço – carbono, aptos para rosca NBR 6414, para condução de fluidos – Especificação.
  • NBR 5688 – Tubos de PVC rígido para esgoto predial e ventilação – Especificação.
  • NBR 8161 – Tubos e conexões de ferro fundido para esgoto e ventilação – Padronização.

Esquema típico de uma instalação sanitária

Conforme o item 4.1.4 da NBR 8160, as instalações prediais de esgoto sanitário devem ser projetadas de modo a:

Permitir o rápido escoamento dos esgotos e fáceis desobstruções

Vedar a passagem de gases e animais das tubulações para o interior das edificações

Não permitir vazamentos, escapamentos de gases e formação de depósitos no interior das tubulações

Impedir a poluição da água potável


Por tanto elas deveram coletar e afastar da edificação todos os despejos provenientes do uso da água para fins higiênicos, e encaminha-los a um destino indicado pelo poder publico competente.
Este destino poderá ser:

  • Rede publica coletora de esgoto sanitários.
  • Sistema particular, quando não houver rede publica.
O esquema de funcionamento de um sistema de esgoto, em geral, é representado no diagrama a seguir:

Ramal de Descarga

Ramal de Esgoto

Tubo de Queda

Subcoletor

Coletor Predial

Coletor Público ou Tratamento Individual






Instalações de Águas Pluviais

No Brasil é adotado o sistema separador absoluto, no qual as águas pluviais precipitadas sobre as edificações devem ter destinos diferentes dos esgotos sanitários, pois a rede pública coletora de esgotos sanitários é dimensionada levando-se em conta apenas às vazões correspondentes aos esgotos.
Sendo assim as águas pluviais devem ser encaminhadas ao sistema público de águas pluviais, que é dimensionado para permitir o adequado escoamento das vazões correspondentes, que são bastante superiores às dos esgotos sanitários.
As instalações de águas pluviais são contempladas pela norma técnica NBR 611, tendo como objetivo:

      • 1.1 Fixar as exigências e critérios necessários aos projetos das instalações de drenagem de águas pluviais, visando garantir níveis aceitáveis de funcionalidade, segurança, higiene, conforto, durabilidade e economia.

        1.2 Ser aplicada à drenagem de águas pluviais em coberturas e demais áreas associadas ao edifício,tais como terraços, pátios, quintais e similares. Não se aplica a casos onde as vazões de projeto e características da área exijam a utilização de bocas-de-lobo e galerias.

  • Assim sendo, as instalações de águas pluviais deverão lançar nas sarjetas das vias públicas a totalidade da chuva precipitada sobre a edificação e deve ser projetadas de modo a apresentarem:

Estanqueidade

Fácil limpeza e desobstrução

Resistência aos esforços provenientes de variações térmicas, choques mecânicos, cargas, pressões, etc

Resistência às intempéries

Capacidade de evitar riscos de penetração de gases quando for o caso

Obs: Existe a possibilidade de se realizar um projeto de um sistema de aproveitamento de água da chuva.

Durante a elaboração do projeto, ou na execução da obra, devem ser consultadas outras normas da ABNT que a NBR 611 relaciona como complementares ao seu texto:

    • NB 37 - Execução de rede coletora de esgotos sanitários
    • NB 94 - Execução de coberturas e fechamentos laterais com chapas onduladas de cimento amianto
    • NB 144 – Discriminação de serviços técnicos para construção de edifícios
    • NB 192 – Elaboração de projetos de obra e arquitetura
    • NB 279 – Execução de impermeabilização na construção civil
    • NB 281 – Execução de redes coletoras enterradas de esgoto com tubos e conexões de PVC rígido de seção circular
    • NB 554 – Emprego de chapas estruturais de cimento-amianto
    • EB 5 - Tubos cerâmicos para esgoto
    • EB 6 – Tubos de concreto simples de seção circular com ponta e bolsa
    • EB 69 – Tubos coletores de cimento-amianto
    • EB 109 – Tubos de concreto armado de seção circular
    • EB 167 – Chapas finas de aço-carbono zincadas pelo processo de imersão a quente
    • EB 225 – Folhas-de-flandres simplesmente reduzidas
    • EB 345 – Requisitos gerais para produtos de cobre e ligas de cobre em chapas e tiras
    • EB 608 – Tubos e conexões de PVC rígido para esgoto predial e ventilação
    • EB 634 – Materiais asfálticos para impermeabilização na construção civil
    • EB 635 – Asfaltos para impermeabilização na construção civil
    • EB 638 – Elastômeros em solução para impermeabilização na construção civil
    • EB 644 – Tubos de PVC rígido de seção circular, coletores de esgotos
    • EB 753 – Tubos de PVC rígido para instalações prediais de águas pluviais
    • PB 34 – Requisitos gerais para chapas finas de aço carbono e aço baixa liga e alta resistência
    • PB 77 – Tubos e conexões de ferro fundido para esgoto e ventilação
    • PB 277 – Dimensões de tubos de PVC rígido

1
Introdução


Uma rede de abastecimento de água é o conjunto de tubulações, conexões, registros e peças especiais, destinados a distribuir a água tratada de forma contínua, a todos os usuários do sistema.
As tubulações são normalmente dispostas nas vias públicas, passando por baixo da pavimentação (enterradas), de modo a facilitar o fornecimento da água às edificações.
Para que uma rede de distribuição possa funcionar perfeitamente, é necessário haver pressão satisfatória em todos os seus pontos. Onde existe menor pressão, instalam-se bombas, chamadas boosters, cujo objetivo é bombear a água para locais mais altos.
Muitas vezes, é preciso construir estações elevatórias de água, equipadas com bombas de maior capacidade. Nos trechos de redes com pressão em excesso, são instaladas válvulas redutoras.
O tipo de rede a ser implantada depende basicamente das características físicas e topográficas, do traçado do arruamento e da forma de ocupação da cidade em estudo.


As redes de abastecimento de água podem ser classificadas conforme o tipo de traçado em: rede ramificada, rede malhada sem anel e rede malhada com anel.






2

Tipos de redes de abastecimento de água

Rede ramificada

Consiste em uma tubulação principal, da qual partem tubulações secundárias. Tem o inconveniente de ser alimentada por um só ponto.

3

Rede malhada sem anel

Da tubulação principal partem tubulações secundárias que se intercomunicam, evitando extremidades mortas.

4

Rede malhada com anel

Consiste de tubulações mais grossas chamadas anéis, que circundam determinada área a ser abastecida e alimentam tubulações secundárias. As redes em anéis permitem a alimentação de um mesmo ponto por diversas vias, reduzindo as perdas de carga.

5

Funcionamento de um sistema de rede de abastecimento de água



6
As redes de distribuição funcionam como condutos forçados, ou seja, conduzem água sob pressão, obedecendo aoprincípio dos vasos comunicantes - princípio de Bernouille - “Em um conjunto de vasos que se intercomunicam, quando a água estiver em repouso, atingirá o mesmo nível em todos os tubos”.
No entanto, estando a água em regime de escoamento, ocorrem perdas de carga nas tubulações e conexões, deixando de atingir o mesmo nível em todos os pontos.
A perda de carga é proporcional ao comprimento da tubulação. Ela é obtida multiplicando-se a perda de carga equivalente a um metro desta tubulação pelo seu comprimento total.
Para duas tubulações do mesmo material, do mesmo comprimento e de mesmo diâmetro, a perda de carga é maior no tubo em que ocorre maior vazão.
Para duas tubulações, feitas do mesmo material, com o mesmo comprimento, dentro das quais passe a mesma vazão, a perda de carga é maior no tubo de menor diâmetro. Diversos autores calcularam e organizaram tabelas para as perdas de carga em diversas situações de vazão, diâmetro de tubulações e material.
Devido às perdas de carga, pode acontecer da água não ter energia suficiente para alcançar locais mais altos ou mais distantes. Neste caso pode haver a necessidade de instalação de estações elevatórias de água, para aumentar a pressão de distribuição.

Já as redes devem ser executadas com cuidado, em valas convenientemente preparadas.
Na rua, a rede de água deve ficar sempre em nível superior à rede de esgoto, e, quanto à localização, é comum localizar a rede de água em um terço da rua e a rede de esgoto em outro. O procedimento depende ainda de estudo econômico. Há situações nas quais o mais aconselhável é o lançamento da rede por baixo de ambas as calçadas. O recobrimento das tubulações assentadas nas valas deve ser em camadas sucessivas de terra, de forma a absorver o impacto de cargas móveis.

7

A rede de distribuição deve ser projetada de forma a manter pressão mínima em qualquer ponto. No projeto da rede de distribuição deve ser previsto a instalação de registros de manobra, registros de descarga, ventosas, hidrantes e válvulas redutoras de pressão.
A ligação domiciliar é a instalação que une a rede de distribuição à rede interna de cada residência, loja ou indústria, fazendo a água chegar às torneiras.
Para controlar, medir e registrar a quantidade de água consumida em cada imóvel, instala-se um hidrômetro junto à ligação.
É objetivo primordial da saúde pública que a população tenha água em quantidade e qualidade em seu domicílio. Quanto mais próxima da casa estiver a água, menor será a probabilidade de incidência de doenças de transmissão hídrica.
A instituição de hábitos higiênicos é indispensável. É necessário orientar a população que nunca teve acesso a água encanada dentro do domicílio, para sua utilização de forma adequada.
Estes hábitos serão facilitados pela instalação, no domicílio, de melhorias sanitárias convenientes.
São os inspetores, auxiliares e agentes de saneamento, que estão aptos a orientar a população sobre a construção e manutenção das melhorias sanitárias.

Introdução

A água constitui elemento essencial à vida vegetal e animal. O homem necessita de água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para atender a suas necessidades, para proteção de sua saúde e para propiciar o desenvolvimento econômico.

Diversos pontos de vista da importância da água

Sanitário e Social

Controlar e prevenir doenças;
Implantar hábitos higiênicos na população como, por exemplo, a lavagem das mãos, o banho e a limpeza de utensílios e higiene do ambiente;
Facilitar a limpeza pública;
Facilitar as práticas desportivas;
Propiciar conforto, bem estar e segurança;
Aumentar a esperança de vida da população.

Econômico

Aumentar a vida média pela redução da mortalidade;
Aumentar a vida produtiva do indivíduo, quer pelo aumento da vida média quer pela redução do tempo perdido com doença;
Facilitar a instalação de indústrias, inclusive a de turismo, e conseqüentemente ao maior progresso das comunidades;
Facilitar o combate a incêndios.



Para seus diversos usos domésticos, a água deve ser potável, isto é, cristalina, fresca, inodora, com certa quantidade de oxigênio dissolvido e teores reduzidos de substâncias estranhas. Deve ser capaz de dissolver o sabão, sem coagular-se, e cozinhar bem os legumes. Além do mais, não deve exalar odor por calefação, nem conter microorganismos patogênicos. Para beber, sua temperatura não deve ser inferior a 5°C, quando já se torna desagradável ao paladar.
Já as águas destinadas à indústria devem ter sua qualidade condicionada às características dos tipos de processamento e produtos das fábricas.
Um sistema de abastecimento de água é o conjunto de obras, instalações e serviços, capazes de produzir e distribuir água a uma comunidade, em quantidade e qualidade compatíveis com as necessidades da população, para fins de consumo doméstico, serviços públicos, consumo industrial e outros usos. Caracteriza-se pela retirada da água da natureza, adequação de sua qualidade, transporte até os aglomerados humanos e fornecimento à população.

A construção de um sistema completo de abastecimento de água requer muitos estudos e pessoal altamente especializado. Para iniciar-se o trabalho é necessário definir:

  1. a população a ser abastecida;
  2. a taxa de crescimento da cidade e
  3. suas necessidades industriais.

Com base nessas informações, o sistema é projetado para servir à comunidade, durante muitos anos, com a quantidade suficiente de água tratada.
Os tipos de sistemas de abastecimento de água podem ser:
Individuais: são mais indicados para regiões de moradias esparsas, como a zona rural. Geralmente nesses casos o abastecimento provém de lençóis subterrâneos, como poços e fontes. Devem ser seguidas uma série de recomendações para que este tipo de abastecimento ocorra de forma segura.
Coletivos: são os mais recomendados para os centros urbanos. Possuem várias vantagens do ponto de vista sanitário, tais como:

  1. mais fácil proteger o manancial;
  2. mais fácil supervisionar um sistema do que fazer supervisão de grande número de mananciais e sistemas;
  3. mais fácil controlar a qualidade da água consumida;
  4. redução de recursos humanos e financeiros (economia de escala).

Partes constitutivas de um sistema de abastecimento de água
Um sistema de abastecimento de água geralmente compreende:

        1. Manancial
        2. Captação
        3. Adução
        4. Tratamento (ETA)
        5. Recalque
        6. Reservação
        7. Distribuição
        8. Ramal predial
  1. A seqüência indicada não é obrigatória. Dependendo das características do manancial abastecedor, do uso dado a água e da topografia do terreno algumas etapas podem não ser necessárias.
    O manancial é toda fonte de água usada para o abastecimento. Eles são classificados normalmente em três tipos:

    1. Superficiais: é toda parte que escoa na superfície terrestre, como os rios, riachos, lagos, lagoas, reservatórios artificiais (açudes);
    2. Subterrâneos: é a parte do manancial que se encontra totalmente abaixo da superfície terrestre, compreendendo o lençol freático raso e profundo. A captação nesses casos é feita normalmente através de poços rasos ou profundos, galerias de infiltração, nascentes, fontes de encosta.
    3. Águas meteóricas: compreende a água existente na natureza na forma de chuva, neve ou granizo.

    A captação é o conjunto de equipamentos e instalações utilizados para a tomada de água do manancial, com a finalidade de lançá-la no sistema de abastecimento. O tipo de captação varia de acordo com o manancial e com o
    equipamento empregado:

    1. superfície de coleta (água de chuva);
    2. caixa de tomada (nascente de encosta);
    3. galeria filtrante (fundo de vales);
    4. poço escavado (lençol freático);
    5. poço tubular profundo (lençol subterrâneo);
    6. tomada direta de rios, lagos e açudes (mananciais de superfície).

    A escolha das obras de captação deve ser antecedidas da avaliação de uma série de fatores, tais como: dados hidrológicos da bacia em estudo ou de bacias na mesma região; nível de água nos períodos de estiagem e enchente; qualidade da água; monitoramento da bacia, para localização de fontes poluidoras em potencial; distância do ponto de captação ao ponto de tratamento e distribuição; desapropriações; necessidade de elevatória; fonte de energia; facilidade de acesso.

    A adutora é o conjunto de tubulações, peças especiais e obras de arte, destinados a promover a circulação da água entre:

    1. Captação e a Estação de Tratamento de Água (ETA);
    2. Captação e o Reservatório de Distribuição;
    3. Captação e a Rede de Distribuição;
    4. ETA e o Reservatório de Distribuição;
    5. ETA e a Rede de Distribuição.

    A tubulação que deriva de uma adutora indo alimentar um setor qualquer da área a ser abastecida, é chamada sub-adutora.
    As adutoras podem ser classificadas em função:

    1. Da natureza da água transportada:
    2. adutora de água bruta: transporta a água da captação até a Estação de Tratamento de Água;
    3. adutora de água tratada: transporta a água da Estação de Tratamento de Água até os reservatórios de distribuição.
    4. Da energia usada para movimentação da água:
      1. adução por gravidade;
      2. adução por recalque;
      3. adução mista: parte por gravidade e parte por recalque.
    5. Do modo de escoamento:
      1. adução em conduto livre: mantém a superfície sob o efeito da pressão atmosférica. Os condutos podem ser abertos (canal) ou fechados. A água ocupa apenas parte da seção de escoamento, não funcionam à seção plena (totalmente cheios);
      2. adução em conduto forçado: a água ocupa a seção de escoamento por inteiro, mantendo a pressão interna superior à pressão atmosférica. Permite à água movimentar-se, quer em sentido descendente por gravidade quer em sentido ascendente por recalque, graças à existência de uma carga hidráulica.
      3. adução mista: parte em conduto forçado, parte em conduto livre.

    O tratamento da água consiste em melhorar suas características organolépticas, físicas, químicas e bacteriológicas, a fim de torná-la adequada ao consumo humano.
    Essas características são expressas em diversos parâmetros (índices físicos, químicos e biológicos), que têm seus valores máximos fixados, no Brasil, pela portaria n° 35, de 19 de janeiro de 1990, do Ministério da Saúde.
    As águas de superfície são as que mais necessitam de tratamento, porque se apresentam com qualidades físicas e bacteriológicas impróprias e variando ao longo do tempo de acordo com a época do ano e o regime das chuvas.
    Já as águas subterrâneas e as águas de nascente apresentam, na maioria das vezes, boa qualidade, onde com uma simples proteção do local de captação e cloração, pode-se consumir essas águas sem perigo. Mas é importante ressaltar que antes de se utilizar qualquer tipo de água deve-se realizar um estudo para identificar de forma segura qual a melhor forma de tratamento.
    Uma Estação de Tratamento de Água (ETA) é o local onde se realizam uma série de operações, de forma controlada, para se garantir a qualidade da água a ser distribuída.

    Numa ETA convencional o tratamento da água se realiza através das seguintes etapas:

    1. oxidação/aeração
    2. correção do ph
    3. coagulação/floculação
    4. decantação/sedimentação
    5. filtração
    6. desinfecção
    7. correção do ph
    8. fluoretação

    O primeiro passo é oxidar os metais presentes na água, principalmente o ferro e o manganês, que normalmente se apresentam dissolvidos na água bruta. Para isso, injeta-se cloro ou produto similar, pois tornam os metais insolúveis na água, permitindo, assim, a sua remoção nas outras etapas de tratamento. Além disso a adição de cloro funciona como uma desinfecção, destruindo muitos microorganismos e algas já nesta etapa. Já a aeração pode ser feita através de aeradores artificiais ou por agitação mecânica. Neste caso o ferro e manganês dissolvidos reagem com o oxigênio transformando-se num precipitado, possibilitando sua remoção por decantação ou filtração.
    A correção do pH, utilizando-se normalmente a cal, é feita para ajustar o pH da água num ponto ótimo que proporcione a melhor formação de flocos na coagulação.
    A coagulação tem por objetivo transformar as impurezas que se encontram em suspensão fina, em estado coloidal, e algumas que se encontram dissolvidas, em partículas que possam ser removidas posteriormente pela decantação (sedimentação) e filtração. A coagulação é realizada geralmente adicionando a água reagentes coagulantes, como o sulfato de alumínio ou o sulfato ferroso. O sulfato de alumínio normalmente é o produto mais utilizado, tanto pelas suas propriedades, como pelo seu menor custo.

    Também podem ser usados outros compostos para auxiliar a coagulação. Os alcalinizantes, como o hidroxido de cálcio e de sódio, o carbonato de sódio, são usados para conferir a alcalinidade necessária para a coagulação. Em algumas estações não é adicionado nenhum produto pois a alcalinidade natural da água já é suficiente. Já as substâncias coadjuvantes, como os polieletrólitos por exemplo, são utilizadas para melhorar a capacidade de floculação.
    O processo envolve a dispersão do coagulante, sua reação com a alcalinidade para a formação do gel e a aglomeração dessa gelatina para a formação do floco. Geralmente os reagentes são aplicados por via úmida (o composto granulado é dissolvido em água e aplicado contando-se os ml/mim para se controlar a floculação).
    A dosagem do coagulante ocorre no tanque de mistura rápida, que proporciona uma rápida homogeneização do mesmo no meio líquido. Já na etapa seguinte, de floculação, a agitação da água vai diminuindo gradualmente de forma a possibilitar a formação dos flocos e esses não serem destruídos pela agitação intensa da água nem se depositarem no fundo por uma agitação muito lenta.
    Alguns fatores que influenciam numa boa floculação são:

    1. pH
    2. tempo de mistura
    3. temperatura
    4. grau de agitação da água

    Então os flocos, ainda em suspensão são carreados pela água para a etapa seguinte onde irão sedimentar-se.
    No decantador, os flocos gelatinosos em suspensão na água serão removidos por gravidade, sedimentando-se lentamente nos pontos de descarga no fundo do tanque de decantação, deixando a maior parte da água livre de partículas. Os decantadores podem ser do tipo convencional (baixa taxa) ou de escoamento laminar (elementos tubulares ou de placas) denominados decantadores de alta taxa.

    Em uma E.T.A. convencional os decantadores são horizontais simples, geralmente retangulares ou circulares, que tem boa profundidade e volume , onde retém-se a água por longo tempo, o necessário para a deposição dos flocos. Em alguns locais pode-se observar decantadores verticais que tem um menor tempo de retenção da água, porem é necessário equipamentos como módulos tubulares que dificultam a saída dos flocos.
    O decantador pode ser dividido em quatro zonas:

    1. Zona de turbilhonamento: É a zona situada na entrada da água; observa-se nesta zona uma certa agitação onde a localização das partículas é variável.
    2. Zona de decantação: Nesta zona não há agitação e as partículas avançam e descem lentamente.
    3. Zona de ascensão: Os flocos que não alcançam a zona de repouso seguem o movimento da água e aumentam a velocidade.
    4. Zona de repouso: onde se acumula o lodo. Esta zona não sofre influencia da corrente de água do decantador em condições normais de operação.

O decantador deve ser lavado quando a camada de lodo tornar-se muito espessa, ou quando em processos descontínuos se iniciar a fermentação.
A decantação é o preparo para a filtração, quanto melhor for a decantação, melhor será a filtração. Para tanto a cor da água de ser baixa, 5 a 10 no máximo, e o decantador deve remover 90%, pelo menos, da turbidez encontrada na água bruta.
A saída da água é feita junto à superfície, e comumente por calhas dispostas, formando desenhos diversos e sobre cujos bordos superiores a água flui, constituindo esses bordos autênticos vertedouros.
Na filtração ocorre a remoção das partículas que não foram removidas na etapa de decantação. A filtração consiste em fazer a água passar por substâncias porosas capazes de reter e remover algumas de suas impurezas. Como meio poroso, emprega-se em geral camadas de areia ou camada de areia e antracito, sustentadas por camadas de seixos, sob as quais existe um sistema de drenos para recolher a água filtrada.

Durante a filtração ocorrem os seguintes fenômenos:

  1. ação mecânica de coar;
  2. sedimentação de partículas sobre grãos de areia;
  3. floculação de partículas, que estava em formação, pelo aumento da possibilidade de contato entre elas;
  4. formação de partículas gelatinosas na areia, promovida por microorganismos que aí se desenvolvem (filtro lento).

Os filtros podem ser classificados de acordo com sua velocidade ou sua pressão.

  1. Pela velocidade de filtração:
    1. Filtros lentos: funcionam com taxa média de 4 m3/m2/dia;
    2. Filtros rápidos: funcionam com taxa média de 120m3/m2/dia.
  2. Pela pressão:
    1. De pressão: fechados, metálicos, nos quais a água é aplicada sobre pressão (usado em piscinas e industrias);
    2. De gravidade: os mais comuns.

      1. Cloro líquido
      2. Cal clorada
      3. Hipocloritos
  1. Na lavagem, a areia que constitui o leito filtrante deverá ser posta em suspensão ou expansão na água. A velocidade ascensional da água deverá ser suficiente para expandir a areia, mas insuficiente para carrega-la para a calha de coleta de água de lavagem. A lavagem e feita quando a entrada de água é maior que a saída provocando o acúmulo de água no filtro (afogamento). Porém essas condições variam de acordo com o funcionamento da ETA, como a turbidez da água bruta e decantada.
    Se a operação for bem conduzida a água filtrada apresentará: remoção de materiais em suspensão e substâncias coloidais, redução de bactérias presentes em até 90%, alteração das características da água, deixando-a límpida.


    A desinfecção é feita logo após a filtração, e tem a finalidade de eliminar microorganismos patogênicos da água, inclusive em relação a um eventual ponto de contaminação ao longo da rede, pois é dada uma dosagem de desinfetante de modo que se tenha um residual ao longo da rede até os pontos de utilização da água. Como medida de segurança, em casos de surtos epidêmicos a dosagem de desinfetante deve ser aumentada.


    O cloro constitui o mais importante dentre todos os elementos (ozônio, iodo,prata) utilizados na desinfecção da água. Ele pode ser usado nos seguintes formatos:

    O cloro é aplicado na água por meio de diversos tipos de dosadores, que são aparelhos que regulam a quantidade do produto a ser ministrado, dando-lhe vazão constante.

    Quando aplicado sob a forma gasosa, o acondicionamento do cloro gasoso é feito em cilindros de aço, com várias capacidades de armazenamento.
    Pode ainda ser aplicado sob a forma líquida, proveniente de diversos produtos que libertam cloro quando dissolvidos na água. Os aparelhos usados nesse caso são os hipocloradores e as bombas dosadoras.
    Além disso, ele também reduz gostos e odores da água e evita a putrefação do material lodoso que se deposita no fundo dos tanques. Numa grande ETA são usadas diariamente algumas toneladas de cloro.
    A correção do pH é um método preventivo da corrosão do encanamento. Consiste na alcalinização da água para remover o gás carbônico livre e para provocar a formação de uma película de carbonato na superfície interna das canalizações.
    Para a formação da camada ou película protetora eleva-se o pH da água ao ponto de saturação (geralmente utiliza-se o HIDROXIDO DE CALCIO). Como é necessário um pequeno residual de pH, então procura-se manter o pH final pouco superior a 7.0 (ligeiramente alcalino). O objetivo é com isso formar uma camada protetora de 1 mm, para que não haja incrustações.

A fluoretação é a adição, por meio de dosadores, de flúor na água, sendo normalmente usados o fluoreto de sódio, o fluossilicato de sódio o ácido fluossilícico. Ela é feita para diminuir a incidência de cárie dental na população, especialmente no período de formação dos dentes, que vai do nascimento até os 15 anos de idade aproximadamente.
A concentração de íon fluoreto varia, em função da média das temperaturas máximas diárias, observadas durante um período mínimo de um ano (recomenda-se cinco anos). A concentração ótima situa-se em torno de 1,0mg/l.
Após dez a 15 anos de aplicação do fluor na água, para cada criança é efetuado um levantamento dos dentes cariados, perdidos e obturados, denominado índice cpo, para avaliação da redução de incidência de cáries.
A água logo que sai do processo de tratamento vai para os reservatórios, que tem por finalidade:

  1. atender as variações de consumo ao longo do dia, mesmo nos casos extraordinários, como os horários de máximo consumo em dias muito quentes;
  2. promover a continuidade do abastecimento no caso de paralisação da produção de água;
  3. manter pressões adequadas na rede de distribuição;
  4. garantir uma reserva estratégica em casos de incêndio.

De acordo com sua localização e forma construtiva os reservatórios
podem ser:

  1. reservatório de montante: situado no início da rede de distribuição, sendo sempre o fornecedor de água para a rede;
  2. reservatório de jusante: situado no extremo ou em pontos estratégicos do sistema, podendo fornecer ou receber água da rede de distribuição;
  3. elevados: construídos sobre colunas quando há necessidade de aumentar a pressão em conseqüência de condições topográficas;
  4. apoiados, enterrados e semi-enterrados : aqueles cujo fundo está em contato com o terreno.

Os reservatórios são normalmente construídos em: concreto armado, aço, fibra de vidro, alvenaria e argamassa armada.
Os reservatórios são sempre um ponto fraco no sistema de distribuição de água. Para evitar sua contaminação, é necessário que sejam protegidos com estrutura adequada, tubo de ventilação, impermeabilização, cobertura, sistema de drenagem, abertura para limpeza, registro de descarga, ladrão e indicador de nível.
Sua limpeza e desinfecção devem ser realizadas rotineiramente. Quanto a capacidade de reservação, recomenda-se que o volume armazenado seja igual ou maior que 1/3 do volume de água consumido referente ao dia de maior consumo.

A água do reservatório encontra-se pronta para ser distribuída através do sistema de rede de abastecimento de água.Convém ressaltar que todo este processo requer grandes investimentos.
A água é um bem comum da humanidade, mas devido ao manejo impróprio ela tende a se tornar cada vez mais cara.

Evitar o desperdício, além de ser um grande exemplo de cidadania, é construir um futuro onde a água nunca falte.

Sistema de Tratamento Biológico da Água

Água de boa qualidade significa “saúde e vida em abundância”.
O planeta está pedindo socorro.
É preciso cuidar da água para termos vida.
É um bem comum da humanidade, e todos temos o dever de ajudar na sua recuperação.
O desperdício não ajuda ninguém a ficar mais rico nem mais feliz.
Pense, reflita e cuide desse precioso bem.



Introdução

A água é um dos alimentos essenciais à vida e a cada dia é mais agredida. O desmatamento, a erosão, a poluição do solo, dos rios e córregos e o desperdício são fatores que interferem tanto na diminuição da quantidade de água quanto na sua qualidade.
A melhoria da qualidade da água se dá na junção de várias ações que busquem proteger, recuperar o solo, as matas, as nascentes, as matas ciliares, os rios, córregos, retirando todo tipo de fontes de contaminação/poluição, como dejetos animais e humanos, restos de produtos tóxicos, embalagens e restos de caldas de agrotóxicos, lixões, entre outros.
Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, anualmente morrem mais de 10 milhões de pessoas vítimas de tifo, dengue, malária, hepatite, cólera, diarréias, esquistossomose, etc., todas doenças relacionadas com a água. Assim , buscar soluções que possam contribuir para aumentar a disponibilidade e melhorara qualidade da água é fundamental, e é obrigação dos órgãos públicos que atuam junto à população rural/pesqueira.

O que é sistema de tratamento biológico da água com de raízes

O sistema de tratamento biológico da água com zona de raízes é um processo muito simples e eficiente, que se destina a tratar a água proveniente de córregos, rios, cachoeiras ou nascentes. As raízes das plantas utilizadas oxigenam a água e utilizam os nutrientes (matéria orgânica) dissolvidos na água para a sua alimentação. Ao redor das raízes vão se formando colônias de bactérias que vão consumindo e transformando a matéria orgânica. Neste processo, as raízes facilitam a eliminação da contaminação bacteriológica (coliformes fecais) e também vão absorvendo metais pesados e resíduos de agrotóxicos.

No sistema de tratamento ocorre a filtração e a retirada de materiais em suspensão ou dissolvidos na água, tanto no sentido horizontal quanto no vertical. Dessa forma, a água percola todo o leito filtrante. A planta utilizada pode ser da família das juncáceas ou das gramíneas, como é o caso da Ziganopsis bonariensis, conhecida como junco brasileiro.


Como tratar biologicamente a água com zona de raízes

O sistema de tratamento biológico da água com zona de raízes é composto de três etapas principais:

Primeira Etapa – cuidados com o local de captação da água:

  • Preservação e/ou recuperação da floresta ou da mata ciliar, no caso de córrego, rio ou cachoeira.
  • Retirada de fontes de poluição (dejetos humanos, animais, produtos tóxicos).
  • Conservação do solo nas áreas adjacentes.
  • Quando se trata de água de córrego ou cachoeira, é necessária a construção de uma pequena represa ou dique para captar a água a ser canalizada para entro do tanque de tratamento.

Segunda Etapa – construção do tanque de tratamento: onde serão plantadas as mudas do junco num leito filtrante ou substrato com materiais como brita, seixo rolado, areia e cacos de telha ou tijolo.

Terceira Etapa – armazenamento e distribuição da água tratada: reservatório de água capaz de armazenar a água tratada para posterior distribuição ou utilização pelas famílias.

Como dimensionar o sistema de tratamento de água

    • Volume de água a ser tratada;
    • Turbidez da água (quantidade de sedimentos dissolvidos ou em suspensão na água = areia, argila, limo, matéria orgânica);
    • Tipo de material para o leito filtrante;
    • Largura mínima de 1,5m e comprimento mínimo de 3m, entendendo que esta é a área de tratamento, e um espaço de mais ou menos 30cm (além dos 3m) no comprimento para o controlador de nível;
    • A altura do tanque de tratamento será sempre de 0,70m, relacionada com o comprimento das raízes;
    • A relação entre comprimento (L) e largura (B) deve ficar entre 2 e 4;
    • O número de plantas será cinco ou seis por metro quadrado.
  • Para dimensionar o sistema de tratamento biológico de água é necessário considerar os seguintes itens:

    Quanto ao volume de água, há que se considerar a necessidade de água atual e futura das famílias envolvidas.
    A determinação da turbidez facilita a definição da necessidade do tanque de decantação.
    Material necessário para o leito filtrante: brita nº 2 ou seixo rolado, areia grossa, cacos de telha ou de tijolo. Estes últimos são necessários tanto para a filtração quanto para facilitar o processo do desenvolvimento do junco.
    Para tratar 1000 litros/dia exige-se uma área aproximada de 2,16m2.

Como implantar o sistema de tratamento biológico da água com zona de raízes

Em caso de córregos:

  • Construir uma pequena represa ou dique para captar a água;
  • Construir, se necessário, um pré-decantador para decantar a matéria orgânica/sedimentos contidos na água.

Em todas as situações:

  • Cuidar de toda a arborização do local;
  • Construir um tanque/caixa de tijolos de maciços e cimento ou de ferrocimento para o tratamento. Este tanque deverá ser impermeável e conter quatro divisórias. Em cada divisória ocorrerá um processo de tratamento com diferentes tipos de material filtrante.

Na Figura 1 observa-se o detalhe do fundo falso da primeira divisória do sistema de tratamento. Este fundo falso tem a função de retirar a matéria orgânica que entra no sistema.

Nota: Nas divisórias não há necessidade de paredes, basta um anteparo na colocação do material de filtração no qual será plantado o junco. A única divisória com parede será a do regulador de nível.

Na Figura 2 observa-se a planta do sistema de tratamento de água de forma completa. Nesta figura estão os detalhes da quantidade de material a ser usado em cada divisória, assim como o detalhe da entrada da água e da mangueira flexível que regula o nível de água no sistema.


Como instalar o sistema de tratamento biológico da água com zona de raízes

    • Na primeira divisória coloca-se uma mistura (substrato) de 70% de brita ou seixo rolado e 30% de cacos de tijolo ou telha e planta-se o junco.
    • Na segunda divisória coloca-se uma mistura (substrato) de 70% de areia grossa e 30% de cacos de telha ou tijolo e planta-se o junco.
    • Na terceira divisória preenche-se o espaço somente com areia grossa. Neta divisória não se planta o junco e se coloca uma tampa, pois este espaço é parte final do processo de tratamento.
    • Coloca-se um registro na entrada da água para a caixa de tratamento e um cano flexível na saída da água tratada para regular o nível e a quantidade de água aser tratada.
  • Após construir a caixa de tratamento, chega a hora de instalar o sistema. Para tanto, necessita-se colocar o substrato em cada divisória e plantar o junco. O procedimento para a implantação segue estes arranjos:

Por que o junco?

O junco tem vantagens frente às demais plantas aquáticas: o comprimento de suas raízes, a capacidade de oxigenação da água e a baixa necessidade de manutenção, como podas e retirada de mudas, entre outras. As plantas aquáticas aproveitam o nitrogênio dissolvido na água e retiram a matéria orgânica. Sua função é de filtrar a água, retendo nas suas células metais pesados, fenóis, resíduos de agrotóxicos, entre outros. Criam, ainda, um ambiente propício para a diminuição dos coliformes fecais.
Optou-se pelo junco, pois, além de se adaptar muito bem nas várias regiões do Estado, é menos exigentes no manuseio, o que não acontece com outras plantas aquáticas.
(Fonte EPAGRI)

Sistemas de Esgotamento Sanitário

Introdução

Grande parte da água distribuída nas edificações transforma-se em esgoto, o qual deve ser coletado e tratado antes de ser lançado no solo ou em corpos d’água. Numa cidade, existem diversos tipos de esgoto, com suas características variando em função dos usos da água. Por exemplo: têm-se os esgotos industriais, diferentes para os vários tipos de fábricas, os esgotos hospitalares e os esgotos domésticos, produzidos nos domicílios.

Os esgotos domésticos são os que provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer outras edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas ou outros dispositivos de utilização de água para fins domésticos.

Os esgotos industriais, além da matéria orgânica, podem carrear substâncias químicas tóxicas ao homem e a outros animais. Os esgotos industriais devem ser considerados caso a caso, e efetuar um tratamento conforme suas características.
Sendo assim a disposição adequada dos esgotos é essencial para a proteção da saúde pública e para a preservação do meio ambiente.

Aproximadamente, cinqüenta tipos de infecções podem ser transmitidas de uma pessoa doente para uma sadia por diferentes caminhos, envolvendo os excretas humanos.

Os esgotos, ou excretas, podem contaminar a água, o alimento, os utensílios domésticos, as mãos, o solo ou ser transportados por moscas, baratas, roedores, provocando novas infecções.

Além disso as substâncias presentes nos esgotos exercem ação deletéria nos corpos de água: a matéria orgânica pode causar a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido provocando a morte de peixes e outros organismos aquáticos, escurecimento da água e exalação de odores desagradáveis; é possível que os detergentes presentes nos esgotos provoquem a formação de espumas em locais de maior turbulência da massa líquida; defensivos agrícolas determinam a morte de peixes e outros animais. Há, ainda a possibilidade de eutrofização pelo excesso de nutrientes, provocando o crescimento acelerado de algas que conferem odor, gosto e biotoxinas à água.

As soluções para o esgoto podem ser individuais ou coletivas. Em cidades, é recomendável que exista sistema coletivo de esgotamento, composto de uma rede coletora e de uma estação de tratamento para as águas residuárias.
No Brasil se adota o sistema tipo separador absoluto, onde os sistemas coletores de esgoto são independentes dos sistemas coletores de águas pluviais.
As soluções individuais são indicadas para o meio rural ou para áreas de residências esparsas, mas infelizmente, no Brasil ainda são poucas as cidades que dispõem de sistemas coletivos, tornando-se necessárias muitas vezes a adoção de sistemas individuais, o que nem sempre se constitui solução adequada.

Objetivos a serem atingidos com sistemas coletivos de esgotos:

Sanitários
Prevenção de doenças
Remoção rápida e segura dos esgotos
Tratamento adequado dos esgotos
Disposição sanitária dos esgotos, por meio do lançamento adequado dos mesmos em corpos receptores naturais
Sociais
Segurança e conforto
Eliminação de aspectos ofensivos ao senso estético e desaparecimento dos odores fétidos
Possibilita a utilização dos cursos d’água urbanos como elementos de recreação e práticas esportivas
Econômicos

Conservação dos recursos naturais
Diminuição dos custos no tratamento de água para abastecimento urbano e industrial
Cria melhores condições para o desenvolvimento de atividades econômicas, como por exemplo, o turismo
Evitar a depreciação dos patrimônios, pois os proprietários de áreas a jusante dos lançamentos de esgotos têm direitos legais ao uso da água em seu estado natural

Como funciona uma rede coletora de esgotos sanitários

O sistema coletivo de esgotos é composto por: rede coletora, estação de tratamento de esgotos (ETE) e o lançamento final em um corpo receptor.Compreende-se por redes coletoras de esgotos sanitários o conjunto de canalizações destinadas à coleta e transporte de esgotos domésticos

e industriais a um destino conveniente, incluindo seus elementos acessórios e complementares (estações de recalque, poços de visita, etc).A rede coletora recebe os esgotos produzidos nas residências, indústrias e no comércio, sendo composta pelos coletores secundários, coletores principais (coletores-tronco) e interceptor.

Os esgotos são transportados pelos ramais prediais das edificações para os coletores secundários, destes para os coletores-tronco e, daí, para o interceptor, que é a tubulação final da rede, a qual margeia cursos d’água, canais ou mar, e que encaminha os esgotos à Estação de Tratamento de Esgoto.

O líquido escoa dentro das tubulações a no máximo 75% da sessão dos tubos, ou seja, não é preenchido todo o conteúdo da canalização.
O bom escoamento é conseqüência da auto-limpeza, obtida através de valores mínimos de velocidade e de altura molhada, para a vazão máxima de cálculo.
O lixo e água de chuva são os maiores inimigos das redes de esgotos. O lixo que vai para as redes de esgoto entope os tubos, impedindo a passagem do esgoto, e fazendo com que as redes se rompam; as águas de chuva quando vão para as redes de esgoto causam extravasamentos. A água de chuva “enche” toda a tubulação de esgoto, pressionado as paredes dos tubos fazendo com que se rompam, provocando refluxos.





Se possível, todo o escoamento do esgoto deve se dar apenas pela ação da gravidade, mas dependendo das profundidades que os coletores alcancem pode ser necessária a instalação de estações elevatórias, com o objetivo de recalcar o esgoto para níveis mais elevados, evitando-se grandes escavações.

A escolha do tipo de traçado da rede coletora (longitudinal, perpendicular, espinha de peixe, radial, etc) dependerá principalmente da topografia do terreno (terreno plano, acidentado, etc).

O acesso à rede, para fins de manutenção e limpeza, é feito através dos poços de visita.

A escolha do corpo receptor do efluente da estação de tratamento é outro aspecto importante. Mesmo tratado, o esgoto ainda contém impurezas capazes de causar a poluição dos corpos hídricos. Deve-se levar em consideração a capacidade de autodepuração do corpo d’água, assim como os usos dado a água em locais à jusante do lançamento do efluente tratado.




Aspectos básicos de projeto e dimensionamento de uma rede coletora de esgotos sanitários:

a) Dimensionamento da Rede

  • Cálculo do período ou alcance do projeto
  • Cálculo da população de projeto
  • Previsão da distribuição da população
  • Estimativa das variações das vazões diárias e horárias máximas e mínimas
    • Per capita
    • Industrial
    • De infiltração










  • Cálculo das vazões que podem escoar pelas tubulações em cada trecho
  • Levantamento do perfil topográfico das ruas em cada trecho
  • Levantamento do comprimento dos tubos em cada trecho
  • Cálculo dos diâmetros dos tubos de cada trecho
  • Determinação do tipo de traçado da rede
  • Determinação das cotas topográficas em que serão assentados os coletores, isto é, a profundidade em que ficará cada coletor no terreno, em cada ponto da rede.

b) Condições Técnicas a Serem Satisfeitas pela Rede Segundo as Normas de Projeto (condições mais comuns)

- O sistema ser do tipo separador absoluto
- As edificações atendidas deverão ter tratamento primário (ex. caixa de gordura)
- A rede deve trabalhar sob regime de escoamento livre
- Lamina líquida máxima
- Declividade mínima dos condutos
- Velocidade mínima de escoamento
- Descarga máxima no trecho
- Diâmetro máximo das tubulações








Obs: As condições técnicas de projeto podem variar conforme a região atendida.

c) Determinação das Tubulações, Órgãos Acessórios e Seções Especiais

  • Materiais empregados
  • Poços de visita
  • Estações elevatórias
  • Emissários
  • Seções de canalizações de grandes dimensões
  • Caixas coletoras
  • Poços coletores
  • Bombas


Considerações finais


Um bom projeto de uma rede coletora de esgotos sanitários deve prever, em todas suas etapas de construção, todos os aspectos que levem em conta proporcionar o mínimo de incômodo à população.
Para a conservação e manutenção da rede é importante a existência de um cadastro que permita conhecer a posição de qualquer parte ou componente integrante do sistema.
Também para se garantir uma boa conservação e manutenção deve-se realizar inspeções periódicas, com profissionais habilitados.
Realizar, concomitante à obra, um programa de conscientização da população a respeito da importância do sistema é fundamental para promover o conhecimento ecológico, além de incentivar as pessoas a preservar, evitando a disseminação de ligações clandestinas.

Sistemas de Tratamento de Efluentes Industriais

    Introdução


    Prevenir e controlar a poluição decorrente do funcionamento das indústrias é um dos mais delicados dilemas de nossa civilização. A indústria, pelo que ela movimenta, é o alicerce do desenvolvimento econômico de nossa sociedade capitalista, impulsionando as mais diversas atividades.

    Todo este desenvolvimento se deu, muitas vezes, às custas de enormes impactos ambientais. Não havia meios, em tempos passados, de frear a expansão da sociedade industrial em prol do equilíbrio ecológico.



    Este quadro vem mudando. Hoje em dia, principalmente nos países mais desenvolvidos, existe maior rigor e controle sobre as atividades potencialmente poluidoras.
    A tendência é se avançar cada vez mais em direção ao chamado desenvolvimento sustentável. A manutenção da vida, afinal, depende disso.
    Numa cidade, existem vários tipos de esgoto, com suas características variando em função dos usos da água.

    Os efluentes provenientes das residências e demais estabelecimentos que dão uso domiciliar à água são, de certa forma, de fácil caracterização dentro dos parâmetros comumente utilizados.


    Já os efluentes industriais não podem ser caracterizados de uma única forma, pois dependem das características próprias de cada indústria, dos produtos fabricados, dos processamentos, das matérias primas empregadas.
    A utilização de água pela indústria pode ocorrer de diversas formas, tais como:

    • incorporação ao produto;
    • lavagens de máquinas, tubulações e pisos;
    • águas de sistemas de resfriamento e geradores de vapor;
    • águas utilizadas diretamente nas etapas do processo industrial ou incorporadas aos produtos;
    • esgotos sanitários dos funcionários.

    Exceto pelos volumes de águas incorporados aos produtos e pelas perdas por evaporação, as águas tornam-se contaminadas por resíduos do processo industrial ou pelas perdas de energia térmica, originando assim os efluentes líquidos.
    Esses efluentes líquidos, quando despejados no meio ambiente (normalmente em rios) sem tratamento adequado de seus poluentes característicos, causam a alteração de qualidade nos corpos receptores e conseqüentemente a sua poluição (degradação).
    A poluição hídrica pode ser definida como qualquer alteração física, química ou biológica da qualidade de um corpo hídrico, capaz de ultrapassar os padrões estabelecidos para a classe, conforme o seu uso preponderante.
    Considera-se a ação dos agentes: físicos materiais (sólidos em suspensão) ou formas de energia (calorífica e radiações); químicos (substâncias dissolvidas ou com potencial de solubilização); biológicos (microorganismos).
    Pode-se referir à poluição orgânica de uma industria utilizando o indicador “população equivalente”. Admitindo que uma indústria qualquer gere uma determinada carga de DBO por dia (Kg.DBO/dia), entende-se por população equivalente desta indústria, a população ou número de indivíduos que gerando efluentes domésticos produza uma carga de DBO igual à produzida pela indústria em referência.
    Ex: uma fábrica com vazão de 1.000 m3/dia e DBO de 1.000 mg/l possui a seguinte população equivalente:

    • carga da fábrica = 1.000 Kg/dia de DBO
    • população equivalente = 1.000 Kg/dia / 0,054 Kg/hab.*dia = 18.518 habitantes.

    A poluição pelos efluentes líquidos industriais deve ser controlada inicialmente pela redução de perdas nos processos, incluindo a utilização de processos mais modernos, arranjo geral otimizado, redução do consumo de água incluindo as lavagens de equipamentos e pisos industriais, redução de perdas de produtos ou descarregamentos desses ou de matérias primas na rede coletora. A manutenção também é fundamental para a redução de perdas por vazamentos e desperdício de energia.
    Além da verificação da eficiência do processo deve-se questionar se este é o mais moderno, considerando-se a viabilidade técnica e econômica.
    Após a otimização do processo industrial, as perdas causadoras da poluição hídrica devem ser controladas utilizando-se sistemas de tratamento de efluentes líquidos.




    Fontes típicas e efeitos dos poluentes presentes em efluentes líquidos

    As características dos efluentes industriais são inerentes a composição das matérias primas, das águas de abastecimento e do processo industrial. A concentração dos poluentes nos efluentes é função das perdas no processo ou pelo consumo de água.



Poluentes

Efeitos

Fontes típicas

Orgânicos biodegradáveis

Desoxigenação, condições anaeróbias, morte de peixes, odores.

Efluentes com grandes quantidades de hidrocarbonetos dissolvidos; refino de açúcar; destilarias; cervejarias; processamento de leite; industria de papel e celulose.

Metais pesados

Morte de peixes, envenenamento do gado, morte do plâncton, acumulação na carne dos peixes e moluscos.

Limpeza, platinado e decapagem de metais; refinamento dos fosfatos e da bauxita; geração de cloro; fabricação de baterias; curtimento do couro.

Ácidos e alcális

Afetação do sistema de compensação do PH, desordenamento do sistema ecológico.

Percolados das jazidas de carvão; decapagem do aço; industrias têxteis; produções químicas, limpeza da lã; lavadores.

Desinfetantes: Cl2, H2O2, formalina, fenóis

Morte seletiva de microorganismos, aparecimento de sabor e odor na água.

Branqueamento do papel e tecidos; síntese de resinas; fabricação de penicilina; fabricação de gás, coque e alcatrão de carvão; tinturas e produções químicas.

Íons: Fé, Ca, Mg, Mn, Cl, SO4

Mudanças nas características da água: aparecimento da cor, dureza, sanilidade e incrustações.

Metalurgia; fabricação de cimento; cerâmica; bombeamento de petróleo das jazidas.

Agentes oxidantes e redutores: NH3, NO2-, NO3-, S-, SO3-2

Alteração do balanço químico por esgotamento rápido do oxigênio e sobrenutrição, aparecimento de odores e crescimento seletivo de microorganismos.

Fabricação de gás e coque; plantas de fertilizantes; fabricação de explosivos; tintura e fabricação de fibras sintéticas; obtenção de polpa a partir da madeira; branqueamento.

Poluentes evidentes à vista a ao olfato

Espuma, sólidos sedimentáveis e flotantes, odores, deposição aeróbia no fundo; óleos e gorduras

Resíduos de detergentes; tinturas; processamento de alimentos e carne; fábricas de açúcar de beterraba; plantas de manufatura de lã; fezes de aves; refino de petróleo.

Microorganismos patogênicos

Infecções em humanos, reinfecção de outros seres vivos, doenças das plantas pela irrigação com água contaminada por fungos

Resíduos de matadouros; processamento de lã; águas residuais do processamento de aves; resíduos hospitalares.

Fonte: ANEEL



    Parâmetros sanitários


    Parâmetros sanitários são os indicadores utilizados para o dimensionamento e o controle da poluição por efluentes industriais.
    Os sistemas de tratamentos de efluentes industriais objetivam primordialmente, adequar as características do efluente industrial aos parâmetros sanitários de lançamento exigidos pela legislação ambiental, e em alguns casos atender a requisitos mais específicos, como objetivar o reuso de águas.



    Os principais parâmetros são:

    • Temperatura
    • Cor e odor
    • Sólidos totais
    • Turbidez
    • DBO
    • DQO
    • Carbono orgânico total (COT)
    • Detergentes
    • Fenóis
    • Óleos e graxas
    • Densidade
    • Condutividade
    • Alcalinidade
    • Oxigênio dissolvido
    • Hidrocarbonetos
    • Pesticidas
    • Fluoretos
    • Sulfetos, sulfatos
    • pH
    • Nitrogênio e fósforo
    • Metais
    • Agentes biológicos (microorganismos)

    Classificação dos métodos de tratamento de efluentes industriais

    Os tipos de processos adotados devem levar em conta os seguintes fatores:

    • a legislação ambiental regional;
    • o clima;
    • a cultura local;
    • os custos de investimento e os custos operacionais;
    • a quantidade e a qualidade do lodo gerado na estação de tratamento de efluentes industriais;
    • a qualidade do efluente tratado;
    • a segurança operacional relativa aos vazamentos de produtos químicos utilizados ou dos efluentes;
    • explosões;
    • geração de odor;
    • a interação com a vizinhança;
    • confiabilidade para atendimento à legislação ambiental;
    • possibilidade de reuso dos efluentes tratados.

    Os sistemas de tratamento de efluentes são baseados na transformação dos poluentes dissolvidos e em suspensão em gases inertes e ou sólidos sedimentáveis para a posterior separação das fases sólida/líquida. Sendo assim, se não houver a formação de gases inertes ou lodo estável, não podemos considerar que houve tratamento.
    A Lei de Lavoisier, sobre a conservação da matéria é perfeitamente aplicável, observando-se apenas que ao remover as substâncias ou materiais dissolvidos e em suspensão na água estes sejam transformados em materiais estáveis ambientalmente.
    A poluição não deve ser transferida de forma e lugar. É necessário conhecer o princípio de funcionamento de cada operação unitária utilizada bem como a ordem de associação dessas operações que definem os processos de tratamento.

Tipo de tratamento

Processos inclusos e objetivos

Preliminar

Remoção de metais pesados, pesticidas e outras substâncias que podem inibir o tratamento biológico.

Primário

Prepara o efluente para o tratamento biológico. Inclui a separação dos sólidos grossos com grades ou desintegradores, a equalização (do fluxo e da composição) e a neutralização. Os óleos, as gorduras e os sólidos em suspensão são removidos por flotação, decantação ou filtragem.

Secundário

Inclui a degradação biológica dos compostos orgânicos solúveis. São típicos níveis de entrada de 50 a 1000 mg/l de DBO e de saída < 30 mg/l de DBO. Geralmente o tratamento é aeróbio, porém pode-se realizar um tratamento combinado anaeróbio-aeróbio.

Terciário

Remoção de tipos específicos de poluentes, fundamentalmente orgânicos não biodegradáveis. Inclui operações de filtragem, adsorção com carvão ativado granular, oxidação química, etc.

Tratamento dos lodos

Inclui processos de espessamento dos lodos por decantação e flotação, ou processo de secagem e disposição final dos mesmos.

Fonte: ANEEL

Um fator importante que determina o grau de controle da poluição por efluentes líquidos é a localização da indústria. Podemos citar como exemplo o caso de uma indústria que esteja localizada em uma bacia hidrográfica de classe especial, que não poderá lançar nesta nem mesmo os efluentes tratados. Nestes casos é necessário além do tratamento, que seja feito uma transposição dos efluentes tratados para outra bacia, logicamente com maiores custos.
Além de atender aos requisitos específicos para o lançamento de efluentes, as características dos efluentes tratados devem ser compatíveis com a qualidade do corpo receptor.

PROCESSOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

Processos físicos

Gradeamento

Peneiramento

Separação água/óleo

Sedimentação

Filtração

Flotação

Processos químicos

A clarificação de efluentes

Precipitação química

Oxidação de cianetos

Redução do cromo hexavalente

Precipitação do fósforo

Processos biológicos

Lodos ativados

Processos facultativos

Processos de desaguamento de lodos

Adensamento ou espessamento

Secagem de lodo

Secagem natural:

  • Lagoas de lodo
  • Leitos de secagem

Secagem mecânica

Filtro á vácuo

Prensa desaguadora contínua - "belt press"

Centrifugação

Filtro-prensa

Conclusão

Os sistemas de tratamento devem ser utilizados não só com o objetivo mínimo de tratar os efluentes, mas também atender a outras premissas. Um ponto importante a ser observado é que não se deve gerar resíduos desnecessários pelo uso do tratamento. A estação de tratamento não deve gerar incômodos seja por ruídos ou odores, nem causar impacto visual negativo.
Deve-se sempre tratar também os esgotos sanitários gerados na própria indústria, evitando-se assim a sobrecarga no sistema público. Assim cada indústria deve controlar totalmente a sua carga poluidora. Pode-se sintetizar que um bom sistema de tratamento é aquele que pode ser visitado.
Cada vez mais as empresas serão pressionadas a tratar localmente seus efluentes. É a cobrança por parte da sociedade que irá legitimar as ações visando a preservação do meio ambiente.



Sistemas de Tratamentos de Efluentes Domiciliares

Introdução

Uma estação de tratamento e disposição final de esgoto sanitário é o local onde se realiza, de forma controlada, uma série de operações unitárias, de modo a reduzir a níveis considerados aceitáveis pela legislação o potencial poluidor da quantidade de esgoto sanitário que chega a estação, e efetuar após o tratamento, o adequado lançamento do efluente tratado num corpo d’água receptor.




Vários fatores influem na escolha do tipo de processo de tratamento a ser empregado em cada caso. O importante é definir a tecnologia utilizada tendo como base princípios de sustentabilidade, procurando harmonizar os pontos de vistas econômico, social e ecológico. O parâmetro mais importante é condicionar o tratamento à capacidade depuradora do corpo d’água receptor.

Neste quesito leva-se também em consideração o uso dado a água nos locais à jusante do ponto de lançamento.

Dentre os outros fatores disponíveis, pode-se citar:

  1. Característica dos esgotos;
  2. Área disponível para a implantação da ETE;
  3. Custo de implantação;
  4. Disponibilidade e custos operacionais de consumo de energia elétrica;
  5. Topografia dos possíveis locais de implantação e das bacias de drenagem e esgotamento sanitário;
  6. Volumes diários a serem tratados e variações horárias e sazonais da vazão de esgotos;
  7. Disponibilidade e grau de instrução da equipe operacional responsável pelo sistema;
  8. Clima e variações de temperatura da região;
  9. Disponibilidade de locais e/ou sistemas de reaproveitamento e/ou disposição adequados dos resíduos gerados pela ETE.

No projeto de uma ETE, normalmente não há o interesse em se determinar os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída, tendo em vista a complexidade das análises de laboratório que seriam necessárias e a pequena utilidade prática desses resultados como elementos para subsidiar o projeto e operação da mesma. Desta forma, é preferível a utilização de parâmetros indiretos que traduzam o potencial poluidor do despejo em questão. Esses parâmetros são divididos em três categorias: físicos, químicos e biológicos.
Os parâmetros físicos são em função de partículas sólidas suspensas ou em estado coloidal (orgânicas ou inorgânicas) que alteram a transparência (turbidez) e cor da água, podendo precipitar-se na forma de lodo. Outras substâncias dissolvidas também poderão conferir alterações de cor, manifestação de odor e também variações de temperatura. Ex: sólidos totais, sólidos totais dissolvidos, sólidos sedimentáveis, etc.
Já os parâmetros químicos constituem-se de substâncias orgânicas e inorgânicas solúveis. A fração orgânica é representada por proteínas, gorduras, hidratos de carbono, fenóis e por uma série de substâncias artificiais, fabricadas pelo homem, como detergentes e defensivos agrícolas. As substâncias minerais mais importantes são nutrientes (nitrogênio e fósforo), enxofre, metais pesados e compostos tóxicos. Ex: DBO, DQO, nitratos, nitritos, nitrogênio amoniacal, orto-fosfato.
Os parâmetros biológicos são representados pelos seres vivos liberados junto com os dejetos humanos: bactérias, vírus, fungos, helmintos e protozoários. Alguns desses seres habitam normalmente o trato intestinal do homem e não lhe prejudica a saúde; outros podem causar doenças e são denominados organismos patogênicos. EX:contagem total de bactérias, contagem de coliformes totais (NMP), contagem de coliformes fecais (NMP).



Classificação dos processos de tratamento de esgoto sanitário

É comum classificar as instalações de tratamento, em função do grau de redução dos sólidos em suspensão e da redução da demanda bioquímica de oxigênio, proveniente da eficiência de uma ou mais unidades de tratamento, em:


Tratamento preliminar

Remoção de sólidos grosseiros (grade)
Remoção de gorduras
Remoção de areia (caixa de areia)

Tratamento primário

Sedimentação
Flotação
Digestão do lodo
Secagem do lodo
Sistemas compactos (sedimentação e digestão, Tanque Imhoff)
Sistemas anaeróbios (lagoa anaeróbia, reator de fluxo ascendente)

Tratamento secundário

Filtração biológica
Processos de lodos ativados
Decantação intermediária ou final (sedimentação do lodo)
Lagoas de estabilização aeróbias (facultativa, aerada)

Tratamento terciário

Lagoas de maturação
Desinfecção
Processos de remoção de nutrientes
Filtração final



Estimativa da eficiência esperada nos diversos nÍveis de tratamento incorporados numa ETE (eficiÊncia gradativa)


Tipo de tratamento

Matéria orgânica
(% remoção de DBO)

Sólidos em suspensão
(% remoção SS)

Nutrientes
(% remoção nutrientes)

Bactérias
(% remoção)

Preliminar

5 – 10

5 –20

Não remove

10 – 20

Primário

25 –50

40 –70

Não remove

25 –75

Secundário

80 –95

65 –95

Pode remover

70 – 99

Terciário

40 - 99

80 – 99

Até 99

Até 99,999

    Os principais tipos de ETE’s são as que operam pelas seguintes tecnologias:

    • Lagoas de estabilização
    • Lodos ativados
    • Filtros biológicos aerados
    • Sistemas individuais (descentralizados)
    • Reator Anaeróbio de Manto de Lodo (Reatores anaeróbios de fluxo ascendente, RAFA ou UASB).

Lodos Ativados

Lodo ativado é o floco produzido num esgoto bruto ou decantado pelo crescimento de bactérias (zoogléias) ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido, e acumulado em concentração suficiente graças ao retorno de outros flocos previamente formados.
O sistema de lodos ativado é amplamente utilizado, a nível mundial, para o tratamento de despejos domésticos e industriais, em situações em que são necessários uma elevada qualidade do efluente e reduzidos requisitos de área. No entanto, este sistema inclui um índice de mecanização superior ao de outros sistemas de tratamento, implicando em uma operação mais sofisticada e em maiores consumos de energia elétrica.
O processo de lodos ativados é biológico. O sistema consta de uma unidade de aeração (reator aeróbio) e outra de decantação (decantador secundário). A unidade de recirculação do lodo também faz parte do sistema.

Esquema básico de lodos ativados







No reator, é fornecido oxigênio ao esgoto, através de aeradores ou insufladores de ar (difusores), satisfazendo as condições para que ocorram as reações bioquímicas de remoção da matéria orgânica pela ação das bactérias aeróbias e, em determinadas condições, remoção da matéria nitrogenada. Em condições naturais de operação, a formação do floco e sua quantidade presente no volume do reator é relativamente pequena, sendo necessários um tempo muito longo e um volume de tanque muito grande para tornar efetivo o processo de floculação. Por esta razão é feita uma recirculaçãocontínua do lodo do decantador secundário para o interior do reator, mantendo então uma concentração elevada de biomassa no sistema, acelerando sua eficiência.







No decantador secundário ocorre a sedimentação dos sólidos (biomassa), permitindo que o efluente final saia clarificado.
A biomassa consegue ser facilmente separada no decantador secundário devido a sua capacidade de flocular. Isto de deve ao fato das bactérias possuírem uma matriz gelatinosa, que permite a aglutinação das bactérias e outros microorganismos, como os protozoários. A maior dimensão do floco facilita sua sedimentação.

Existem diversas variantes do processo de lodos ativados, sendo as principais e mais utilizadas
as apresentadas na tabela abaixo:

Divisão quanto à idade do lodo

- Lodos ativados convencional
- Aeração prolongada

Divisão quanto ao fluxo

- Fluxo contínuo
- Fluxo intermitente (batelada)

Divisão quanto ao afluente à etapa biológica do sistema de lodos ativados

- Esgoto bruto
- Efluente de decantador primário
- Efluente de reator anaeróbio
- Efluente de outro processo de tratamentos de esgotos


Em virtude da recirculação, a concentração de sólidos em suspensão no reator é cerca de 10 vezes maior à de uma lagoa aerada de mistura completa, sem recirculação. Isto possibilita um tempo de detenção do líquido baixo e volume do tanque de reação reduzido. Porém, devido à recirculação, os sólidos permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido. O tempo de retenção dos sólidos no é denominado idade do lodo. É devido a esta maior permanência dos sólidos no sistema que se garante o tempo suficiente para a biomassa metabolizar praticamente toda a matéria orgânica dos esgotos.
Como há no interior do reator a chegada contínua de DBO do esgoto afluente, a quantidade de biomassa tende a aumentar devido à recirculação e a reprodução dos microorganismos. Caso não houvesse um controle desse crescimento a concentração de biomassa no reator poderia atingir níveis excessivos, dificultando a transferência de oxigênio a todas as células. Isto também sobrecarregaria o decantador secundário, impedindo os sólidos de decantarem satisfatoriamente e comprometendo a qualidade do efluente final. Para manter o sistema em equilíbrio, é necessário que se retire aproximadamente a mesma quantidade de biomassa que é aumentada por reprodução. Esta quantidade é denominada lodo biológico excedente, que pode ser extraído diretamente do reator ou da linha de recirculação.
O tratamento do lodo é parte integrante do processo de lodos ativados. Portanto, o fluxograma da estação apenas pode ser completo se incluir as etapas relacionadas com o tratamento e disposição final dos subprodutos gerados no tratamento. Os fluxogramas dos sistemas de tratamento do lodo possibilitam diversas combinações de operações e processos unitários, compondo distintas seqüências, sendo as principais:

  • Adensamento: remoção de umidade (redução de volume)
  • Estabilização: remoção da matéria orgânica (redução de sólidos voláteis)
  • Condicionamento: preparação para a desidratação (principalmente mecânica)
  • Desidratação: remoção de umidade (redução de volume)
  • Disposição final: destinação final dos subprodutos

Filtros biológicos aeróbios

O filtro biol ógico aeróbio consta de um meio filtrante composto de pedras, cascalho, plástico, ou de outro material grosseiro, por onde o esgoto percola em fluxo descendente, sofrendo uma oxidação bioquímica pelos microorganismos que aderem ao material filtrante. A depuração pela filtração biológica não é devida à ação mecânica de filtrar, e sim está associada ao desenvolvimento de bactérias e à formação de películas gelatinosas ativas.
O mecanismo do processo é caracterizado pela alimentação e percolação contínua de esgoto através do meio suporte. A continuidade da passagem dos esgotos nos interstícios promove o crescimento e a aderência da massa biológica na superfície do meio suporte. Esta aderência é favorecida pela predominância de colônias gelatinosas (Zooglea), mantendo suficiente período de contato da biomassa com o esgoto.
Garantido o equilíbrio bioquímico, as substâncias coloidais e dissolvidas são transformadasem sólidos estáveis na forma de flocos facilmente sedimentáveis. O processo é similar ao processo de lodos ativados, sendo que na biofiltração a massa biológica permanece fixa (biomassa estática) e no processo de lodos ativados a massa biológica é móvel, atravessando os esgotos retidos no tanque de aeração, através da recirculação do lodo (biomassa móvel).
O ar circula no sistema pelos espaços existentes entre as unidades que compõe o material filtrante. Este fluxo de ar, garantido normalmente por meios artificiais, mais a contínua presença de carga orgânica, favorece a reprodução e aumento da biomassa, prejudicando a passagem de oxigênio até as camadas internas, onde então o processo de oxidação da matéria orgânica pode realizar-se anaerobicamente. Os gases resultantes da decomposição anaeróbia podem provocar a “explosão” de toda massa biológica agregada ao meio suporte, desprendendo-a e facilitando seu arraste pelo fluxo de esgoto. Este material constitui o lodo, normalmente removido por sedimentação em unidades de decantação. Os filtros podem ser:

  • Filtros Biológicos De Baixa Carga, onde não ocorre recirculação do efluente, ocupando uma área maior.
  • Filtros Biológicos De Alta Carga, onde é feita a recirculação do efluente líquido do decantador secundário, possibilitando uma maior
    carga de DBO aplicada e ocupando uma área menor, porém exige uma operação mais complexa.

Esquema de um sistema de tratamento de esgoto com filtro biológico aeróbio


Reator UASB (Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente e Manta de Lodo)




A evolução recente do tratamento anaeróbio conduziu a que os esgotos, e não apenas o lodo, possam ser tratados em unidades dimensionadas para tal fim, em condições tais que a biomassa formada no interior dessas unidades aí permaneçam por um elevado tempo de residência.
O reator UASB é um sistema que opera por meio da separação das fases sólidas, líquidas e gasosas. Neste reator o processo consiste de um fluxo ascendente de esgotos através de um leito de lodo denso e de elevada atividade, o qual é responsável pela estabilização anaeróbia da matéria orgânica. Acima da área onde fica a manta de lodo, são colocados dispositivos que possibilitam a separaçãode gases (principalmente o metano) e a sedimentaçãodos sólidos.







Desenho esquemático de um reator UASB

O reator UASB costuma receber, no Brasil, outros tipos de nomenclatura, como a seguir:

  • DAFA (digestor anaeróbio de fluxo ascendente)
  • RAFA (reator anaeróbio de fluxo ascendente)
  • RALF (reator anaeróbio de leito fluidificado)
  • RAFAALL (reator anaeróbio de fluxo ascendente através de leito de lodo)

Vantagens e Desvantagens dos reatores UASB

Vantagens

Desvantagens

  • Sistema compacto, com baixa demanda de área
  • Baixo custo de implantação e operação
  • Baixa produção de lodo
  • Baixo consumo de energia
  • Satisfatória eficiência na remoção DBO/DQO, da ordem de 65-75%
  • Elevada concentração de lodo excedente
  • Boa desidratabilidade do lodo
  • Possibilidade de emanação de maus odores
  • Baixa capacidade do sistema de tolerar cargas tóxicas
  • Elevado intervalo de tempo para a partida do sistema
  • Necessidade de uma etapa pós-tratamento.



Apesar da satisfatória eficiência do tratamento, os reatores UASB apresentam dificuldades em produzir um efluente que se enquadre nos padrões estabelecidos pela legislação ambiental brasileira. Neste caso, é necessário que se realiza um pós-tratamento do efluente, sendo as formas mais comuns:

  • Sistema UASB – Filtro Anaeróbio
  • Sistema UASB – Lagoa de Polimento
  • Sistema UASB – Aplicação no Solo
  • Sistema UASB – Biofiltro Aerado

Desinfecção

O objetivo da desinfecção é eliminar os microorganismos patogênicos do efluente final, protegendo os corpos d’água para aproveitamento posterior.
A cloração tem sido a principal forma de desinfecção praticadas nas estações de tratamento. O cloro penetra nas células dos microorganismos e reage com suas enzimas, destruindo-as. Além da ação desinfetante a utilização do cloro produz alguns efeitos secundários, como redução de odor, redução de DBO (da ordem de 15%).


Na cloração do esgoto os compostos mais utilizados têm sido:

  • Cloro gasoso
  • Hipoclorito de cálcio
  • Hipoclorito de sódio

A desinfecção com raios ultravioleta também é um método vantajoso de desinfecção, sendo totalmente físico e apresentando eficiência e simplicidade. A aplicação é feita por um conjunto de lâmpadas que emitem radiação ultravioleta. A energia ultravioleta é absorvida pelos microorganismos causando alterações estruturais no DNA, impedindo a reprodução.
O processo de desinfecção por ozonização tem sido prática comum em vários países da Europa. O ozônio é gerado no próprio local de aplicação, e por ser um oxidante muito forte, sua aplicação é recomendada apenas a efluentes terciários já nitrificados ou filtrados. Possui como principais desvantagens o elevado custo dos equipamentos de geração do ozona e a inexistência de residual após sua aplicação.

Lagoas de Estabilização

As lagoas de estabilização constituem um processo de tratamento de esgoto que aproveita fenômenos naturais, sendo mais indicadas para regiões de clima tropical. Neste sistema a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica e/ou redução fotossintética das algas.



As lagoas de estabilização apresentam excelente eficiência de tratamento. A matéria orgânica dissolvida no efluente das lagoas é bastante estável, e a DBO geralmente encontra-se numa faixa de 30 a 50 mg/l, nas lagoas facultativas (havendo-se uma separação de algas, esta concentração pode reduzir-se para 15 a 30 mg/l).



Atualmente se aceita que as lagoas devem cumprir dois objetivos principais: a prote ção ambiental, e neste caso tem em vista principalmente a remoção da DBO ou da DQO; e a proteção da saúde pública, visando a remoção de organismos patogênicos.


De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria orgânica, as lagoas costumam ser classificadas em:

  • Lagoas anaeróbias: Onde predominam processos de fermentação anaeróbia; imediatamente abaixo da superfície não existe oxigênio dissolvido. Na verdade tudo se passa como num digestor anaeróbio ou numa fossa séptica. Ocupam áreas menores que as lagoas facultativas, mas têm eficiência mais baixa na remoção de DBO. A profundidade fica em torno de 2,0 a 5,0 metros.

  • Lagoas facultativas: Nas quais ocorrem, de forma simultânea, processos de fermentação anaeróbia, oxidação aeróbia e redução fotossintética. Há predominância de decomposição anaeróbia, devido ao depósito de lodo no fundo. A zona aeróbia situa-se na parte superior, e na zona intermediária encontra-se a camada facultativa. Sua profundidade varia normalmente entre 1,0 e 2,0 metros.

  • Lagoas aeradas: É uma modalidade do processo de tratamento por lagoas onde o suprimento de oxigênio é realizado artificialmente por dispositivos eletromecânicos com a finalidade de manter uma concentração de oxigênio dissolvido em toda ou quase toda parte da massa líquida, garantindo as reações bioquímicas que caracterizam o processo. Devido o menor tempo de detenção proporcionado pela aeração artificial, a área ocupada chega a ser até cinco vezes menor que as lagoas facultativas. O lodo biológico que sai juntamente com o efluente das lagoas aeradas precisa ser retido antes do lançamento no corpo receptor, utilizando-se para isso uma lagoa de sedimentação de lodo. Esta segunda unidade tem por objetivo a retenção e digestão do lodo efluente
    da lagoa aerada.
  • Lagoas de maturação: São unidades dispostas após a lagoa facultativa, com o objetivo, principalmente, de aumentar a remoção de organismos patogênicos, através da ação dos raios ultravioletas do Sol. Também reduz sólidos em suspensão, nutrientes e uma parcela de DBO. Algumas estações de tratamento contam com várias lagoas de maturação, dispostas em série após a lagoa facultativa. Com adequado dimensionamento podem ser conseguidas remoções de coliformes maiores que 99,99%.

Esquema representativo de lagoas de estabilização






As condições projeto, operação e manutenção das lagoas de estabilização devem ser conduzidas de forma criteriosa, pois caso deixe de existir o equilíbrio entre as condições locais e as cargas poluidoras, os inconvenientes dos processos aparecerão: exalação de mau cheiro, estética desfavorável, DBO efluente elevada, coliformes fecais em excesso, mosquitos, etc.

Como as lagoas abrangem normalmente áreas extensas, as conseqüências do mau funcionamento podem atingir grandes comunidades, principalmente em relação ao mau cheiro. Isto seria péssimo, pois comprometeria o processo de tratamento de esgotos sanitários por lagoas perante a opinião pública.

Filtro de Areia Plantado (Wetland)

Por que Usar Raízes!
As raízes oxigenam a área a ser tratada e assimilam nutrientes, criando condições ideais para as bactérias degradarem a matéria orgânica.

Como Funciona?

O sistema trata biologicamente o esgoto pós- tanque séptico, utilizando o potencial do junco Zizanopsis bonariensis brás., o qual através das raízes permite o tratamento secundário do esgoto doméstico e industrial, pela decomposição da matéria orgânica e nutrientes mais simples e diminui sensivelmente a contaminação por coli fecal, favorecendo o equilíbrio ambiental.

Terras úmidas construídas (Sistema de Tratamento de Esgoto FILTRO DE AREIA PLANTADO - WETLAND)

As políticas conservacionistas atuais levaram à inibição do uso das terras úmidas naturais, para fins de controle de fluxo de águas de alguma forma poluídas. Essas restrições culminaram, então, no desenvolvimento acelerado de terras úmidas construídas.
As terras úmidas construídas procuram imitar algumas das funções existentes nos sistemas naturais, em particular a capacidade de degradação da matéria orgânica e contenção de nutrientes (fósforo e nitrogênio).
Desta forma, eles são sistemas projetados, artificialmente pelo homem, para utilizar plantas aquáticas em substratos (areia, solo ou cascalho) onde, de forma natural e sob condições ambientais adequadas, pode ocorrer a formação de biofilmes, que agregam uma população variada de microrganismos. Estes seres possuem a capacidade de tratar os esgotos, por meio de processos biológicos, químicos e físicos.



Entre as funções das plantas aquáticas, destacam-se:
- a utilização de nutrientes e metais pesados;
- a transferência de oxigênio para a rizosfera;
- suporte para o crescimento e ação de microrganismos, pela presença de rizomas e de raízes, bem como a absorção de material particulado, pelo sistema radicular das macrófitas.

a) Escolha das macrófitas

Deve-se buscar, na construção das terras úmidas, condições muito parecidas com as existentes nos ambientes naturais, buscando o surgimento das funções de interesse, que, no caso do tratamento de esgotos, são a remoção de matéria orgânica e a retenção de nutrientes.
Entre os componentes principais das terras úmidas encontram-se: as macrófitas aquáticas, o substrato e o biofilme de bactérias, que são responsáveis direta ou indiretamente pela ocorrência dos mecanismos de remoção de poluentes. Na figura abaixo apresenta-se um esquema de uma unidade de fluxo superficial, em escala piloto.

Componentes de um sistema de terra úmida construída, de fluxo superficial

As macrófitas desempenham um importante papel no tratamento de águas residuárias, isso porque elas necessitam de nutrientes para o crescimento e reprodução. Nas terras úmidas construídas, são utilizadas diversas plantas aquáticas, emergentes e flutuantes, sendo que as mais freqüentemente usadas são apresentadas na tabela abaixo. Observa-se que as macrófitas emergentes desenvolvem seus sistemas radiculares, fixadas no substrato, já o caule e as folhas se mantêm parcialmente submersos.

Principais macrófitas emergentes usadas nas terras úmidas construídas


Espécie emergente

Temperatura desejável (ºC)

Tolerância à salinidade (mg/L)

pH ótimo

Typha

10 a 30

30.000

4,0 a 10,0

Juncus

16 a 26

20.000

5,0 a 7,5

Phragmites

12 a 33

45.000

2,0 a 8,0

Schoenoplectus

16 a 27

20.000

4,0 a 9,0

Carex

14 a 32

20.000

5,0 a 7,5

Fonte: Adaptado de REED (1992).

As macrófitas aquáticas que flutuam na superfície da água (flutuantes) mais utilizadas são: Eichhornia crassipes (aguapé), Sperrodela (erva de pato), Salvinia molesta (salvínea) e Hydrocotyle umbellata.

Para a construção de um sistema de terras úmidas, deve-se selecionar as macrófitas aquáticas obedecendo aos seguintes critérios:
- ter tolerância a ambiente eutrofizado;
- ter valor econômico;
- ter crescimento rápido e ser de fácil propagação;
- absorver nutrientes e outros constituintes;
- ser de fácil manejo e colheita.

b) Tipos de terras úmidas
Entre as terras úmidas construídas, têm-se dois tipos usualmente conhecidos:
- de fluxo superficial;
- de fluxo subsuperficial.
As terras úmidas de fluxo superficial constituem bacias ou canais, onde são povoadas as macrófitas que utilizam o material orgânico e nutrientes das águas residuárias a ser tratadas. Geralmente, são tipicamente longas e estreitas, para evitar curtos circuitos. A superfície da água a ser tratada se mantém sobre o substrato. Uma das suas desvantagens é a proliferação de insetos, mosquitos e produção de mau cheiro.
Nas terras úmidas de fluxo subsuperficial, a água residuária a ser tratada escoa horizontalmente, através da zona das raízes e rizomas das macrófitas, situadas a cerca de 15 a 20 cm abaixo da superfície do substrato. As principais macrófitas utilizadas nesse sistema subsuperficial são aquelas já citadas.

A comparação destes dois tipos de fluxo, em relação a alguns parâmetros, é apresentada na tabela abaixo:

Critérios para construção de terras úmidas


Parâmetros

Fluxo superficial

Fluxo subsuperficial

Tempo de detenção hidráulica (dia)

5 a 14

2 a 7

Taxa máxima de carregamento (kgDBO/ha.dia)

80

75

Profundidade substrato (cm)

10 a 50

10 a 100

Taxa de carregamento hidráulico (mm/dia)

7 a 60

2 a 30

Área requerida (ha/m3.dia)

0,002 a 0,014

0,001 a 0,007

Controle de mosquito

Necessário

Não é necessário

Relação comprimento : largura

2:1 a 10:1

0,25:1 a 5:1

Fonte: Adaptado de REED (1992).

c) Aspectos Construtivos
Para a construção das terras úmidas, deve-se observar os seguintes aspectos:
- proximidade dos corpos de água receptores (rios, lagos, reservatórios etc);
- existência de solo impermeável;
- declividade do terreno entre 0 e 3%;
- distância da planície de inundação dos rios;
- disponibilidade de extensas áreas.
Estudos em escala real e de laboratório têm demonstrado que estes sistemas possuem boa capacidade de remoção de DBO, sólidos suspensos, nitrogênio, fósforo e metais. A redução dos teores destes parâmetros é resultante da ação de diversos mecanismos de sedimentação, de precipitação, de adsorção química e de interação microbiana. Na tabela abaixo estão apresentados alguns mecanismos de remoção para alguns constituintes.

Constituintes e mecanismo de remoção do sistema de terras úmidas

Constituintes

Mecanismos de remoção

Sólidos suspensos

Sedimentação e filtração

Material orgânico solúvel

Degradação aeróbia e anaeróbia
Amonificação, nitrificação e desnitrificação (biológico)

Nitrogênio

Utilização pela planta
Volatilização de amônia

Fósforo

Adsorção
Utilização pela planta
Adsorção e troca de cátions

Metais

Complexação, precipitação
Utilização pela planta
Oxidação redução (bioquímica)
Sedimentação
Filtração

Patógenos

Predação
Morte Natural
Irradiação UV
Excreção de antibiótico proveniente das raízes das macrófitas

Fonte: Adaptado de COOPER et al. (1996).

d) Vantagens e Desvantagens
O sistema de terras úmidas construídas, como todos os outros sistemas para tratamento de esgotos, apresenta suas vantagens e desvantagens, conforme apresentado.

Vantagens e desvantagens das terras úmidas construídas


Vantagens

Desvantagens

Baixo custo de Implantação

Demanda média de área

Durabilidade 50 anos

Fácil operação e manutenção reduzida

Necessidade de substrato, como brita e areia

Evita proliferação de moscas, mosquitos, borrachudos e roedores

Remove satisfatoriamente matéria orgânica e sólidos suspensos, nitrogênio e fósforo

Susceptível a entupimento dos espaços vazios do substrato

Não provoca cheiro, evita acumulo de lodo

Considerável redução de patógenos

Necessidade de manejo das macrófitas

Integra-se ao meio ambiente e não polui

Respeita o equilíbrio ambiental, é moderno, seguro, econômico e eficaz


Pode-se acrescentar, como mais uma vantagem, o fato da biomassa produzida no sistema poder ser utilizada pelo homem para vários fins econômicos, tais como:
- alimentação;
- ração para animais;
- fertilizante de solo;
- fertilizante de tanque de psicultura;
- nas indústrias;
- construção civil.

e) Aplicações
- Escolas, e Universidades;
- Residências e Condomínios Residenciais;
- Centros Comerciais e Edifícios;
- Indústrias e Ambientes físicos voltados a produção;
- Centros de Lazer e esportivos;
- Outras atividades geradoras de efluentes líquidos com características domésticas.

Dimensionamento
O tamanho da área a ser instalada em m², segundo prévio estudo realizado pela equipe da Artemec, é determinado por fatores como:
- Volume de produção de esgoto/efluentes em m³ por dia.
- As análises do efluente a ser tratado em cada caso específico.
- Analise do solo e do ambiente a ser implantado o sistema. (declive, capacidade de absorção e permeabilidade do solo).
- Dimensionamento do volume das raízes em relação ao tamanho da instalação. As grandes estações exigem um sistema modular com vários canteiros de tratamento.
- Exigências dos Órgãos do Meio Ambiente

Detalhe construtivo da Wetland

Experiências no âmbito do Programa Nacional de Saneamento Básico PROSAB
No âmbito do PROSAB, a aplicabilidade de sistemas de terras úmidas construídas para o pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios foi investigada por SOUZA et al. (2000). O aparato experimental era constituído por quatro unidades de terras úmidas (10 metros de comprimento, 1 metro de largura e 0,6 m de profundidade), preenchidas com areia grossa e operadas com diferentes taxas hidráulicas (2,0 a 4,5 cm/d). Três das unidades utilizaram macrófitas emergentes (Juncus sp.), enquanto a quarta unidade foi operada como unidade de controle, sem a presença de plantas (Figura 2.10).
Os resultados obtidos após um ano de operação indicaram eficiências médias de remoção de DQO e SST nas faixas de 79 a 85 e 48 a 71, respectivamente. A remoção de coliformes fecais foi excelente, da ordem de 4 unidades logarítmicas. O fósforo também foi eficientemente removido (média de 90%), mas remoção de nitrogênio foi apenas parcial (45 a 70% para amônia e 47 a 70% para NTK).

Vista do sistema de terras úmidas
SOUZA et al. (2000)


Considerações finais sobre o tratamento de efluentes através de Zona de Raízes (Wetlands)

- O tratamento de efluentes através do sistema de zona de raízes passa a funcionar a partir do primeiro dia de instalação. Depois, quanto mais desenvolvido o junco maior a eficiência do tratamento.
- Este sistema ainda possui a vantagem de não necessitar de manutenção cara. A mão-de-obra pode ser treinada em algumas semanas. É importante lembrar que, no tratamento do afluxo subterrâneo dos efluentes, é inexistente o mau odor característico ou proliferação de larvas de mosquitos.
- Se imaginarmos quantos m³ de esgoto in natura que despejamos em nossa rede de esgoto e os problemas que geramos com isso ficaríamos impressionados. Pode ser usado como referência bastante alarmante o aspecto que, a pouquíssimo tempo atrás, ainda se podia pescar em nossos rios que cortam as cidades e hoje temos literalmente esgoto a céu aberto, apesar dos esforços do Poder Público em estar fazendo o possível para evitar esta degradação que desmoraliza e preocupa nossos lares.
- A instalação possui vida aproximada de 50 anos. O fator que limita este tempo é, principalmente, a saturação do solo com fosfatos. Além disso, a presença de grande quantidade de metais pesados ou dejetos tóxicos na água também pode diminuir o tempo de duração da instalação. Nestes casos, o solo deverá ser removido e substituído com novos substratos, isto fará com que o tratamento esteja pronto para novos 50 anos.
- A natureza agradece.

Sistemas Descentralizados

Introdução

Antigamente era comum chamar de esgoto tanto as tubulações condutoras das águas servidas quanto as águas que escoavam por estas tubulações.
Nos dias de hoje a palavra esgoto é usada para designar os despejos provenientes das diversas atividades que para serem realizadas é necessário o uso de água, sendo as principais:

  • uso de água para fins domésticos;
  • uso de água para fins industriais;
  • irrigação;
  • dessedentaçâo de animais,
  • aquicultura;
  • recreação e lazer.

Devido a aversão à palavra “esgoto”, muitos preferem usar o termo “águas residuárias” para descrever as águas servidas.
Os esgotos costumam ser classificados em dois grupos principais: esgotos sanitários domésticos e esgotos industriais.
Os esgotos domésticos são os que provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer outras edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas ou outros dispositivos de utilização de água para fins domésticos.


Já os esgotos industriais são aqueles que provém da utilização de água para fins industriais, sendo sua composição bastante diversa, dependendo do processo industrial empregado. Por isso deve-se tratar os esgotos das industrias separadamente, de acordo com as particularidades de cada uma.




Características dos esgotos domésticos


Os esgotos domésticos contêm aproximadamente 99,9 % de água. A fração restante (0,1%) é composta por sólidos orgânicos e inorgânicos, emsuspensão ou dissolvidos, e microorganismos, na forma essencialmente de água de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem.
É devido ao potencial poluidor desta pequena fração que é necessário tratar os esgotos.



A composição dos esgotos domésticos é mais ou menos definida, variando em função da sua concentração (que depende do consumo d’água), dos hábitos da população, do tipo de sistema de esgotamento e da natureza de eventuais outras contribuições além das domiciliares, mas em média apresentam as seguintes características:

Parametros

Concentração

Demanda bioquímica de Oxigênio (DBO) 5 dias 20º c

200 a 500 mg/l

Demanda química de oxigênio (DQO)

400 a 800 mg/l

Alcalinidade (em CaCO3)

110 a 170 mg/l

Cloretos:

20 a 75 mg/l

Sólidos totais:

700 a 1350 mg/l

Número de coliformes

105 a 106 por mililitro

Nitrogênio total:

35 a 85 mg/l

Sulfatos:

20 mg/l

Fósforo total

5 a 25 mg/l

pH

6,5 a 7,5

Óleos e graxas

55 a 170 mg/l


O esgoto pode ainda ser classificado de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, conforme a tabela abaixo.


Características

Parâmetros

Físicas

  • matéria sólida, temperatura, cor,
  • odor, turbidez

Químicas

  • matéria orgânica, matéria inorgânica

Biológicas

  • bactérias, fungos, protozoários
  • vírus, helmintos

Como as características físicas, químicas e biológicas são normalmente relacionadas com grandezas quantitativas, expressas quase sempre em forma de concentração (mg/l, g/m3, etc), a vazão influi diretamente na estimativa da massa de poluentes presente no esgoto.
A vazão de esgoto está condicionada à disponibilidade de água. O ideal para se estimar a quantidade de esgoto gerado numa comunidade é realizar um monitoramento durante no mínimo 1 ano para depois se determinar um valor médio. No entanto, na falta de informações específicas sobre a utilização de água em determinados locais ou comunidades, pode-se utilizar os dados da tabela abaixo:

Atividade/usuário

Unidade

Esgoto (l/d)

Residência (urbana)

pessoa

150

Residência (popular ou rural)

pessoa

120

Apartamento

pessoa

200

Escola (internato)

pessoa

150

Escola (externato)

pessoa

50

Hotel (sem cozinha e lavanderia)

pessoa

120

Hospital

Leito

250

Alojamento (provisório)

Pessoa

80

Fábrica (em geral)

Pessoa

70

Escritório e edifício público

Pessoa

50

Restaurante ou similar

Refeição

25

Cinema, teatro e templo

lugar

2

Fonte: ABNT

Por que devemos tratar os esgotos sanitários?

Deve-se tratar corretamente os esgotos devido à sua potencialidade de causar danos a saúde e ao meio ambiente.
A principal forma de contaminação se dá quando os esgotos, de forma direta ou indireta, atingem os corpos d’água superficiais ou subterrâneos. Quando um corpo d’água tem sua qualidade alterada, este fato reflete em toda as formas de vida que dependem daquela água.
Os danos poderão ser de ordem social, econômica e ambiental, com essas dimensões interferindo entre si.
É correto afirmar que a qualidade de vida depende da qualidade da água.

Figura: Modificada de Group Raindrops

Conseqüências de lançar os esgotos sem tratamento adequado no meio ambiente

  • Problemas de natureza ambiental e ecológica, em que a presença da matéria orgânica dos esgotos acarreta uma depleção do oxigênio dissolvido na massa de água e reduz a vida aquática, assim como a possibilidade de ocorrer a eutrofização.
  • Problemas de saúde pública, em que a presença de possíveis agentes transmissores de doenças de veiculação hídrica coloca em risco a saúde da população.

A redução do oxigênio num corpo d’água que recebe lançamentos de esgotos ocorre devido ao processo natural de decomposição da matéria orgânica pelosmicroorganismos decompositores, principalmente as bactérias, que para degradarem os compostos necessitam do oxigênio dissolvido na água para seu metabolismo.

Já a eutrofização ocorre quando há um crescimento excessivo de algas e outras plantas aquáticas devido ao aumento de nutrientes oriundos do esgoto, principalmente nitrogênio e fósforo. Esta proliferação de algas e plantas acarreta mudanças nas características do corpo d’água, tais como sabor e odor, toxidez, cor e turbidez. A cobertura da água pelas algas e plantas pode impedir a luz solar de penetrar no corpo líquido, interrompendo a produção de oxigênio pela fotossíntese, com posterior diminuição de oxigênio dissolvido.



Eutrofização

Em termos de saúde pública, as principais doenças transmitidas a partir dos esgotos são:

Doença

Modo de transmissão

Amebíase

Ingestão de água ou alimentos contaminados, moscas, mãos sujas.

Ancilostomose

Contato com o solo contaminado

Ascaridíase

Ingestão de ovos contidos no solo e nos alimentos.

Cólera

Ingestão de água ou alimentos contaminados, moscas, mãos sujas.

Diarréias infecciosas

Ingestão de água ou alimentos contaminados, moscas, mãos sujas.

Esquistossomose

Contato da pele ou mucosas com água

contaminada.

Febre tifóide

Ingestão de águas ou alimentos contaminados, mãos sujas.

Febre paratifóide

Ingestão de águas ou alimentos contaminados, mãos sujas.

Giardíase

Através de mãos contaminadas por fezes contendo cistos; água e alimentos na transmissão indireta.

Hepatite infecciosa

Contaminação feco-oral; ingestão de água e alimentos contaminados.

Poliomelite

Indiretamente, através da ingestão de água contaminada; as moscas podem funcionar como vetores mecânicos.

Teníase

Carne de animais doentes (que se alimentaram de fezes); transferência direta da mão à boca; ingestão de água ou alimentos contaminados.



Alternativas individuais para tratar os esgotos sanitários

Um projeto racional de tratamento de esgotos domésticos necessita, como primeiro parâmetro para análise das alternativas a serem empregadas, um entendimento da capacidade depuradora do solo e dos corpos de água onde será lançado o efluente.
A capacidade receptora das águas, em harmonia com sua utilização, estabelecerá o grau de tratamento a que deverá ser submetido o efluente sanitário, de modo que o corpo d’água receptor não sofra alterações nos parâmetros sanitários de qualidade fixados para a região afetada pelo lançamento.
Os processos de tratamento individuais dos esgotos são formados, em última análise, por uma série de operações unitárias, que são empregadas pararemoção de substâncias indesejadas, ou para a transformação destas substâncias em outras mais aceitáveis.
Ao planejar um sistema de tratamento de esgoto é necessário levar em conta:

  • Tipo de solo;
  • Profundidade do lençol freático;
  • Localização do sistema de tratamento;
  • Número de pessoas X volume de efluente a ser tratado;
  • Alternativas tecnológicas existentes;
  • Área disponível ;
  • Eficiência do sistema;
  • Custo do sistema.

Os sistemas mais usuais de tratamento descentralizado de esgoto sanitário são os que utilizam normalmente as seguintes combinações de processos:

  • caixa de gordura* – tanque séptico – sumidouro ou valas de Infiltração
  • caixa de gordura* – tanque séptico – filtro anaeróbio ou vala de filtração – sumidouro ou valas de infiltração
  • caixa de gordura* – tanque séptico – filtro anaeróbio – filtro aeróbio - sumidouro ou valas de infiltração
  • caixa de gordura* – tanque séptico – zona de raízes
  • caixa de gordura* – tanque séptico – valas de filtração - sumidouro

* A caixa de gordura recebe apenas efluente da pia da cozinha e da pia da churrasqueira


A caixa de gordura tem como função reter a gordura proveniente da pia da cozinha e da pia da churrasqueira, pois a gordura vai com o tempo incrustando nas tubulações, produzindo mau-cheiro e até o entupimento destas. Além disso a gordura prejudica as outras etapas de tratamento do esgoto ao interferir nas características físico-químicas deste.

Já o tanque séptico tem a função de fazer o tratamento primário do esgoto doméstico. Consiste numa caixa impermeável que cria as melhores condições para separar a fase sólida da fase líquida, possibilitando um processo de fermentação biológica, que é a primeira etapa de degradação da matéria orgânica. Quando projetado e executado de forma correta diminui em até 30 % o potencial de poluição.
Os filtros possuem a função de receber o efluente do tanque séptico e dar continuidade ao processo, constituindo assim um nível secundário de tratamento. Nesta etapa a degradação da matéria orgânica se dá através da passagem do efluente da fossa séptica por uma camada de microorganismos (biofilme) que crescem aderidos na superfície do material que constitui o leito filtrante. O filtro será anaeróbio quando o biofilme se desenvolver num ambiente com ausência de oxigênio, e aeróbio quando o ambiente for suprido de oxigênio, normalmente de forma artificial (injetores de ar).



A cloração pode ser utilizada em todos os sistemas de tratamentos citados, pois a desinfecção pelo cloro elimina microorganismos patogênicos.


A vala de filtração é empregada normalmente quando o tempo de infiltração no solo não permite adotar outro sistema econômico. Consiste basicamente de duas canalizações de esgotos superpostas, com uma camada filtrante entre elas, sendo que a canalização de baixo funciona como um dreno para conduzir o efluente tratado a uma outra etapa ou para disposição final no solo ou corpo d’água.
O sistema de valas de infiltração consiste de um conjunto de canalizações assentado a uma profundidade racionalmente fixada, em um solo cujas características permitam a absorção do esgoto efluente da fossa séptica ou dos filtros conectados ao sistema. A percolação do líquido através do solo permite a mineralização dos esgotos, antes que o mesmo se transforme em fonte de contaminação das águas subterrâneas e de superfície.

Os sumidouros, também conhecidos como poços absorventes, recebe o efluente das etapas anteriores de tratamento e tem a função de possibilitar uma infiltração lenta deste efluente no solo. O processo é parecido com o que ocorre nas valas de infiltração, tendo como principal diferença o fato do sumidouro operar com uma profundidade maior e uma área superficial menor em relação às valas.




Os sistemas descentralizados de tratamento do esgoto sanitário devem ser usados sempre que não houver rede pública coletora de esgotos.
Mesmo onde existe rede púbica coletora, é indispensável a utilização da caixa de gordura, pelos argumentos já citados.
Os sistemas descentralizados se adequam a praticamente todas as situações. Mesmos nos casos mais críticos, onde o lençol freático for alto e houver pouca área disponível, é possível encontrar uma solução satisfatória tanto em termos econômicos como ambientais.

Não poluir o meio ambiente é um dever de todo cidadão. A conscientização ambiental é o primeiro passo para se construir uma sociedade que se desenvolva de maneira sustentável.

Biofiltro Aerado Submerso

As principais características do biofiltro aerado submerso são: compacidade, alta concentração de biomassa ativa no volume reacional, idade do lodo elevada, pequena produção de lodo, resistência aos choques (hidráulicos e de carga orgânica) e possibilidade de cobertura evitando problemas com odores e impacto visual. Sendo assim o biofiltro apresenta-se como sistema de pós-tratamento mais indicado.

Constituído por um tanque com material para agregação de matéria, chamado de material suporte ou meio suporte, através do qual ar e efluente percorrem em regime permanente, o meio suporte é mantido sob total imersão pelo fluxo hidráulico, caracterizando-os como reatores trifásicos compostos por:

• Fase sólida: constituída pelo meio suporte e pelas colônias de microrganismos que nele se desenvolvem, sob a forma de um filme biológico (biofilme);
• Fase líquida: composta pelo líquido em permanente escoamento através do meio poroso;
• Fase gasosa: formada pela aeração artificial e, em reduzida escala, pelos gases subprodutos da atividade biológica.

Associados em série a reatores UASB, os biofiltros aerados submersos, vêm recentemente sendo utilizados como unidades de pós-tratamento de efluentes em pequenos e médios Municípios.
Os biofiltros podem se constituir numa excelente opção de pós-tratamento de reatores UASB devido a sua capacidade de remover os compostos solúveis e reter as partículas em suspensão do efluente anaeróbio no mesmo reator, caracterizando assim uma etapa de polimento do efluente.

Aterro Sanitário


Foto de esquematização de um aterro sanitário.

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Aterro Sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se for necessário (1984).
Para adotar um sistema de destinação final dos resíduos sólidos em aterro sanitário primeiramente deve-se fazer um estudo para a escolha da área a ser implantado o aterro, tendo em vista que um aterro sanitário ocupa grandes áreas variando com a população da região; um estudo de impacto ambiental torna-se necessário onde será feita uma simulação dos impactos que esta obra gerará em toda região, levando-se em conta fatores sócio-econômicos, as legislações vigentes, poluição visual e atmosférica, a flora e a fauna, fatores hidrogeológicos, meteorológicos, relevo e a geologia da região.
Método que utiliza princípios de engenharia para confinar resíduos sólidos à menor área possível e reduzí-los ao menor volume possível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão da jornada de trabalho ou a intervalos menores, se necessário (IPT, 1995).

Os aterros sanitários apresentam em geral a seguinte configuração:

  1. Setor de preparação;
  2. Setor de Execução
  3. Setor Concluído.

Alguns aterros desenvolvem esses setores concomitantes em várias áreas, outros de menor porte desenvolvem cada setor
de cada vez. Na preparação da área são realizados, basicamente, a impermeabilização e o nivelamento do terreno, as obras de drenagem para captação do chorume (ou percolado) para conduzi-lo ao tratamento, além das vias de circulação. As áreas limítrofes do aterro devem apresentar uma cerca viva para evitar ou diminuir a proliferação de odores e a poluição visual.

Foto do acondicionamento do lixo em aterro sanitário

Na execução os resíduos são separados de acordo com suas características e depositados separadamente. Antes de ser depositado todo o resíduo é pesado, com a finalidade de acompanhamento da quantidade de suporte do aterro. Os resíduos que produzem material percolado são geralmen e revestidos por uma camada selante.

Foto de um Aterro Sanitário no final de sua vida útil.

Atingida a capacidade de disposição de resíduos em um setor do aterro, esse é revegetado, com os resíduos sendo então depositados em outro setor. Ao longo dos trabalhos de disposição e mesmo após a conclusão de um setor do aterro, os gases produzidos pela decomposição do lixo devem ser queimados e os percolados devem ser captados. Em complemento, também devem ser realizadas obras de drenagem das águas pluviais.

Os setores concluídos devem ser objeto de contínuo e permanente monitoramento para avaliar as obras de captação dos percolados e as obras de drenagem das águas superficiais, avaliar o sistema de queima dos gases e a eficiência dos trabalhos de revegetação. Nesse sentido, segundo IPT (1995), as seguintes técnicas de monitoramento são geralmente utilizadas: piezometria, poços de monitoramento, inclinômetro, marcos superficiais e controle da vazão.

Compostagem

A compostagem é uma técnica milenar, praticada pelos chineses há mais de cinco mil anos. Nada muito diferente do que natureza faz há bilhões de anos desde que surgiram os primeiros microorganismos decompositores.
Tradicionalmente a compostagem é vista como uma prática usual em propriedades rurais e centrais de reciclagem de resíduos.

No primeiro caso é uma estratégia do agricultor para transformar os resíduos agrícolas em adubos essenciais para a prática da agricultura orgânica. No segundo é uma necessidade administrativa, que tem a intenção de diminuir o volume do material a ser gerenciado além de estabilizar um material poluente.
O lixo industrial e doméstico se enquadra no sentido mais abrangente de poluição, mas quando analisado sob diversos aspectos, pode também ser visto como um problema social ou, ao contrário, como uma solução, ou pelo menos, paliativo para vários outros problemas.
É um processo biológico aeróbio de decomposição e estabilização da matéria orgânica, sob condições controladas que permitam o desenvolvimento de temperaturas termofílicas como resultado de um calor produzido biologicamente, para produzir um produto final que é estável, livre de patogênicos e de sementes de plantas, e que pode ser aplicado ao solo” (Haug 1993).



Foto ciclo produtivo da matéria orgânica para compostagem

A compostagem é essencial na redução de resíduos domésticos. Ela pode ser feita sem muitos gastos em qualquer domicílio e produz o composto fertilizante ou húmus, que pode beneficiar o meio ambiente como fertilizante natural em jardins e na agricultura.

O produto final da denominado de composto orgânico (ou húmus), o qual pode ser utilizado como um condicionador do solo, melhorando as características do mesmo. É importante lembrar que o composto orgânico não substitui totalmente a utilização do adubo químico (minerais ou inorgânicos), pois este possui maior quantidade de nutrientes (basicamente nitrogênio, fósforo e potássio) que aquele.



Foto de Leiras de compostagem. Fazenda experimental da Embrapa.

O sucesso da aplicação deste processo depende da produção de um composto de boa qualidade para que o mesmo tenha boa aceitação no mercado, para isto faz-se necessário além do correto dimensionamento do sistema por pessoal qualificado, um controle constante de parâmetros como: umidade, temperatura, oxigenação, concentração de nutrientes e pH. Uma triagem do resíduo da população procurando separar deste somente a parte orgânica é um pré-requisito ao sistema.

Vantagens da Compostagem:

  • Melhora da saúde do solo. A matéria orgânica composta se liga às partículas (areia, limo e argila), ajudando na retenção e drenagem do solo melhorando sua aeração;
  • Aumenta a capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão;
  • Dificulta ou impede a germinação de sementes de plantas invasoras;
  • Aumenta o numero de minhocas, insetos e microorganismos desejáveis, devido a presença de matéria orgânica, reduzindo a incidência de doenças de plantas;
  • Mantêm a temperatura e os níveis de acidez do solo;
  • Ativa a vida do solo, favorecendo a reprodução de microorganismos benéficos às culturas agrícolas;
  • Possibilita a resolução do problema da deposição final de grande parte dos resíduos sólidos urbanos.
  • Redução do lixo destinado ao aterro, com a conseqüente economia com os custos de aterro e aumento de sua vida útil;
  • Aproveitamento agrícola da matéria orgânica;
  • Processo ambientalmente seguro;
  • Eliminação de patógenos;
  • Economia de tratamento de efluentes.

Possíveis problemas da compostagem: Produção de odores, produção de biogás, riscos para a saúde pública, presença de metais pesados.

Etapas da Decomposição

Primeira fase

a) Normalmente denominada decomposição: ocorre a decomposição da matéria orgânica facilmente degradável, como por exemplo, carboidratos.

b) A temperatura pode chegar a 65-70ºC. Nesta temperatura, durante um período de cerca de 15 dias, é possível eliminar as bactérias patogênicas, como por exemplo, as salmonelas, ervas - inclusive as daninhas, ovos de parasitas, larvas de insetos, etc.

c) Esta fase demora de 10 a 15 dias. É comum colocar sobre o material uma camada de cerca de 10-30 cm de composto maduro para manter o euilíbrio interno do material (sem perda de calor e umidade).

d) Nesta faze, proteínas, aminoácidos, lipídios e carboidratos são rapidamente decompostos em água, gás carbônico e nutrientes (compostos de nitrogênio, fósforo, etc.) pelos microorganismos, liberando calor.

e) Temperaturas acima de 75º indicam condições inadequadas e podem causar a produção de odores, devendo ser evitadas. Nesta temperatura, ocorrem reações químicas no processo e não mais ação biológica por microorganismos termófilo.

Segunda fase

a) A fase de semimaturação: os participantes freqüentes desta fase são as bactérias, actinomicetos e fungos. A temperatura fica na faixa de 45 - 30ºC e o tempo pode variar de 2 a 4 meses.

Terceira fase

a) A fase de maturação/humificação: nesta fase, celulose e lignina são transformados em substâncias húmicas, que caracterizam o composto, pelos pequenos animais do solo como por exemplo às minhocas. A temperatura cai na faixa de 25-30ºC.

b) O húmus (composto) é um tipo de matéria orgânica mais resistente à decomposição pelos microorganismos. No solo, as substâncias húmicas vão sendo lentamente decompostas pelos microorganismos e liberando nutrientes que são utilizados pelas raízes das plantas.